Capítulo 93

- HAAAAA!
O grito estridente e agudo que a Cassie soltou, ecoou por toda a casa. Estava aterrorizada enquanto olhava com os olhos esbugalhados para o espelho.
- Melody! MELODY! Põe-me como estava! JÁ! HAAAAA!
- Tem calma, Cassie! Ainda nem acabei!
- Já foi suficiente para eu me olhar ao espelho e ver que pareço um autêntico veado com este cabelo!
As minhas gargalhadas faziam com que a aflição da Cassie se dissipasse por completo, pois também se começava a rir.
Tentei diversos penteados que a minha avó me ensinou. Uns mais robustos e outros mais simples. Nenhum punha a Cassie aliviada.
- Meninas, vocês estão bem? – Perguntou o meu pai, ofegante por subir as escadas a correr.


- Pai?! Já estás em casa? – Perguntei, incrédula – Ah, e estamos bem, sim!
- Ainda bem! Sim, saí mais cedo do trabalho! E vocês? Não andam a faltar à escola, pois não?
- Claro que não – negou a Cassie – O nosso professor está com amigdalites. Coitadinho…
- Coitadinho, uma ova! – Exclamei, bem-disposta.
- Melody!
- Desculpa!
- Bem, eu deixo-vos sozinhas… não estava à espera da tua vistia, Cassandra! Está tudo bem?


- Sim, senhor George! Obrigada.
- Bem, se quiserem eu preparo alguma coisa para vocês comerem…
- Não é preciso, pai…


- Ah, então ainda bem… vou adiantar uma papelada que tenho em atraso. Nada de gritarias!
Com isto, saiu do quarto e foi para a cozinha trabalhar. Estranhei o meu pai não dizer nada em relação à minha reconciliação com a Cassie. Talvez não quisesse importunar, ou simplesmente, com aquela sua cabeça airada, esqueceu-se.
- Bem, vamos ver se isto resulta…
- O quê?
- Já vais ver…
- Prefiro não ver! És uma péssima cabeleireira!

* * *

Fui para o parque, tentar abstrair-me da discussão que tinha tido com os meus pais. Estava extremamente magoada com tudo aquilo que me tinham dito, o que provava ainda mais que não gostavam de mim quase, ou mesmo, nada. Não conseguia suportar o facto de que nem da minha “Família” recebia algum apoio.


Sentei-me num banco envelhecido do parque, observando as outras crianças a brincarem, alegres. Não me cansava de contemplar os seus sorrisos iluminados pela juvenilidade e pela boa-disposição que tinham ao saberem que, ao chegarem a casa, tinham os seus pais, de braços abertos, à sua espera, prontos para os receberem.
Embora isso me magoasse, não conseguia evitar o ímpeto de memórias que me afluíram rapidamente à cabeça. As experiências, más ou boas, que vivi naquele orfanato, eram inesquecíveis. Não conseguia retirar da minha cabeça aquelas tardes soalheiras, que vinha da escola e passava pelo carro dos gelados e comprava, para mim e para os meus amigos do orfanato, que já tratava por irmãos.


Lembro-me que o orfanato atravessou uma fase terrivelmente má, económica e emocionalmente. Miss Béatrice não sabia o que fazer para nos sustentar, e ainda por cima uma das minhas melhores amigas, Susan Bagshot, tinha sido atropelada há poucos dias. Apesar de ela ser mais velha, partilhávamos gostos, musicais e culturais, que não conseguíamos partilhar com mais nenhuma pessoa.
Quando voltei a mim mesma vi que tinha passado, nada mais, nada menos, do que uma hora, a pairar nos meus pensamentos.

* * *

- Melody, eu não sei se isto é boa ideia. Não me sinto bem assim… Sinto-me… simples.
- Ai, esse espírito de sacrifício tão extinto. Vais ver que te habituas! Agora sai da casa de banho.
A persistência em permanecer na casa de banho, diante do espelho, era incansável, chegando até a pensar em tirá-la à força de lá. Quando me preparava para isso, finalmente, a Cassandra Brown, saiu da casa de banho. Estava absolutamente linda, natural… parecia a Cassie verdadeira!



- Estás linda, Cassie!
- Oh, obrigada, Mel. Quer dizer… eu é que te devia agradecer… estou assim graças a ti! Obrigada!
- Não tens que agradecer!
Deu-me um forte e amigável abraço agradecendo-me pela enésima vez.
- Obrigada por me perdoares! A sério! Fico tão feliz por saber que já somos amigas, outra vez! Nem imaginas o quão me sinto bem!
- Eu também me sinto muito bem! Finalmente está tudo a voltar ao normal…
Nesse momento, uma dor torturante e aguda penetrou na minha cabeça, como se esta estivesse a ser apunhalada.


- Mel? Estás bem, amiga?
- E-estou, Cassie… estou bem… - não conseguia disfarçar a minha expressão de sofrimento, aquela dor era de tal forma forte, que quase me forçava a implorar por alívio. Mal me conseguia mexer, nem abrir os olhos.
- Não pareces nada bem! Estás tão pálida! Que horror! Eu vou chamar o teu pai!


- Não! Não! – Neguei – Não é preciso… já estou melhor…
- Tens a certeza?
- Sim…
- Absoluta?
- SIM! Bolas… Desculpa…
- Não faz mal… Bem, vamos andando para as aulas… já estamos atrasadas… era tão bom que todos os nossos professores tivessem amigdalites… já te imaginaste sem testes até às férias de natal? – Soltou um riso histérico.


- Cassie! Esqueci-me de te dizer uma coisa… Esses teus… gritos histéricos, têm de acabar!
- Ah, certo… desculpa!



Eu e o Jake fomos para o campo de Rugby. Ele fez-me prometer que assistia aos seus treinos e de seguida dava-me os bilhetes para o torneio que estava cada vez mais próximo.
Depois do treino, veio ter comigo, ofegante.
- Desculpa a demora… isto atrasou um pouco – lamentou, gentilmente.
- Não faz mal… - disse, dando-lhe um beijo – Preparado para o Torneio?
- Sempre. Acho que estamos treinados o suficiente. Não vamos treinar mais até ao dia do torneio. Acho que o pessoal está a precisar de descansar.
- Fazes muito bem… assim é que é, um bom Capitão! – Exclamei, sorrindo.


Fez um pequeno intervalo para dar um duradouro gole de água, e depois, olhando para mim intrigado, indagou:
- Isso é tudo felicidade de estar comigo?!
- Não… quer dizer… estou contente por estar aqui contigo mas… eu e a Cassie fizemos as pazes!
- A sério?
- Sim! Estou super satisfeita… e ainda por cima mudei-lhe aquele visual pomposo e transformei-a na verdadeira Cassie!
Soltou um riso genuíno, dizendo:
- Fico feliz por te ver assim… já não era sem tempo que vocês faziam as pazes!
- É… ah, Jake… finalmente a minha vida está a tomar outro rumo… a sério, por momentos pensei que não conseguia sair daquela depressão horrível.


- E eu fico muito feliz por ti! – Exclamou, beijando-me – Toma… - deu-me três bilhetes para o Torneio Inter-Cidades – os bilhetes.
- Obrigada! Acho que já sei quem vou levar!
- Quem?
- Depois de amanhã vês! – Disse, alegremente.
- Bem… vou-me vestir. Não saias daqui!
Assenti, e sentei-me numa das bancadas do campo. Guardei os bilhetes na mala e encolhi-me pelo arrepio que me atravessou as entranhas naquele momento.
Respirei fundo e mexi suavemente no colar que tinha ao pescoço, o da minha mãe. Consegui sentir a sua textura suave e fria nos meus dedos. Por momentos, deu-me uma intensa vontade de chorar, não por tristeza, mas sim por alegria e alívio. A minha mãe estava imiscuída no meu coração, para sempre.


…Melody…Melody…

De novo, uma voz feminina apunhalou-me os ouvidos, causando-me outro arrepio intenso, fazendo-me paralisar por completo.
Levantei-me, com as pernas trémulas, e, com um tremendo esforço, fui ter com o Jake, que me estava a chamar, do outro lado do campo.

3 Response to "Capítulo 93"

  • João Says:

    AMEI AMEI AMEI AMEI!
    HAAAAAAAAA!
    Desculpa não ter lido o outro, mas passou-se, a sério... :S
    Anyways, tá lindo como sempre, perfeito, maravilhoso!
    Maaaaaaais! u______u


  • Diogo Says:

    Ainda bem que as letras estão grandes pk como tenho andado doente pupaste-me trabalho.
    Gostei muito mas aquela dor deixou ali um misterio, perfeito.
    Continua!


  • mmoedinhas Says:

    Agora pareço a Cassie AHHHHHHHH! Claro a antiga Cassie! Agora a nova esta muito mais bonita, como é que se diz au naturel... XD COntinuando...

    PASSEI-ME!

    Estou cada vez mais preocupada com a Sarah... *meep*


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