Capítulo 96

- Por favor! Alguém chame uma ambulância! Acudam!
A voz do meu pai parecia estar distante, como se uma parede de vidro espesso nos separasse rigorosamente. Ainda não me atrevera a abrir os olhos…

***

O Michael veio ter comigo, ofegante, parecendo que correra centenas de quilómetros.
- Jake! Jake!
- Que foi, men?
- Tens de ir lá fora!
- Porquê, o que se passa?
- A Melody!

***

A dor tinha cessado, mas o meu corpo continuava dormente como se não me pertencesse, o que me preocupou ainda mais.
Abri os olhos, e rapidamente desejei nunca os ter aberto.


Vi o meu pai, agachado, com o seu braço a apoiar a minha cabeça. Vi a Cassie, com as lágrimas a escorrerem-lhe pelos olhos e com as suas mãos trémulas, a tentar reanimar-me. Vi o meu corpo, estendido no chão, apenas com a cabeça ao colo do meu pai. O meu corpo… desfalecido, no meio do chão.


- Melody! Melody! Por favor! MELODY!
- Ai meu Deus! Amiga! Melody!
O pai levou o seu ouvido ao meu peito, para tentar ouvir o pulsar do meu coração. Mas isso apenas serviu para o pôr mais afligido.
- Não está a respirar! ACUDAM! CHAMEM UMA AMBULÂNCIA!
E nesse momento, a imagem que via ia-se afastando cada vez mais de mim, como se algo me estivesse a puxar. Tudo se estava a desmoronar, desfazendo-se em farrapos brancos, como lençóis fluidos. Toda aquela imagem dissipou-se, assim como o meu corpo, que brilhava no meio daqueles lençóis.


Parecia que estava a ser sugada para um buraco sem fim. O coração quase que me vinha à boca, de tanta ansiedade que estava a sentir naquele momento.
Agora a cidade que me rodeava tinha desaparecido. Eu tinha ido parar a um deserto esbranquiçado, sem nada nem ninguém. A voz não saía dos meus ouvidos, atormentando-me constantemente.

“Melody… finalmente…”

Fiquei imóvel durante alguns instantes, na esperança que algo forme se erguesse à minha frente, e me fizesse perceber que não estava ali sozinha, mas não aconteceu nada. Estava completamente sozinha.


Caminhei para um sentido inserto, pois aquilo não passava de um deserto de uma cor homogénea: branca. Fui acelerando o meu passo gradualmente, na esperança de encontrar uma saída daquela planície infinita.
Não ouvia nada… nem um ligeiro som, o mais minúsculo dos sons… nada. Apenas a minha respiração, que saía dos meus pulmões com dificuldade.
- Olá?
A minha voz trémula dissipou-se no meio daquele meio informe. Não havia céu, vento… até duvidava do próprio chão que pisava.
Até que, a dada altura, no meio daquela imensidão, surgiu um arbusto, com flores coloridas e brilhantes na sua copa verdejante, que brilhavam impressionantemente.


Aproximei-me deste, e toquei nos seus ramos suaves, e assim que lhe toquei, moveu-se ligeiramente, como se sentisse o meu tacto. A luz brilhante que as flores daquele arbusto emanavam fizeram-me sentir uma pontada de felicidade no meu coração. A minha roupa foi-se transformando lentamente num vestido macio e sedoso, branco como todo aquele espaço. A luz do arbusto tinha-me transformado a roupa naquele lindo vestido comprido.


Nesse momento, encantada com aquela pura magia que me envolvera, a voz voltou a zumbir, mas daquela vez, não apenas nos meus ouvidos…
“Melody…”
Olhei para trás, e uma silhueta apareceu no meio de uma espécie de fumo denso. Aquela silhueta não me permitia distinguir a pessoa que ia aparecendo, mas à medida que esta caminhava na minha direcção, eu ia reparando que a pessoa que se aproximava de mim, era a minha mãe.


Usava um vestido igual ao que tinha aparecido no meu corpo, os seus cabelos pretos como o ébano estavam ainda mais lindos e flutuantes, os seus olhos verdes-água, tal e qual os meus, transpareciam uma felicidade pura e divina, tal como o seu sorriso encantador e incansável.
- Melody… oh… Melody, minha filha! – Disse, satisfeita e emocionada, com um grande sorriso na cara.
- M… mãe?! – O meu corpo estremecia naquele momento.
Limitou-se a sorrir, em resposta. Também não pude evitar um sorriso motivado pela emoção que saía de mim naquele momento, ao saber que estava diante da minha mãe.
- Tu estás tão linda, Melody! Tão crescida! Oh, Melody…


- Mãe, és mesmo tu…?
Soltou uma gargalhada doce e suave.
- É claro que sim, minha querida.
A emoção que sentia fez-me esquecer, por instantes, o que me acontecera há, talvez, minutos atrás. Quando me consciencializei das circunstâncias que me levaram àquele lugar, perguntei, preocupada:
- Eu… eu… morri?
A minha mãe voltou a sorrir, não tirando os seus olhos de mim.
- Eu morri? – Repeti.


- Não, filha, não morreste. Aliás… estás mais viva do que nunca… no meu coração…
- Então… onde estou?
- Estás num lugar informe, onde tudo se pode transformar naquilo que mais desejas. Podes olhar por quem mais amas, vigiar quem mais receias, apreciar o que sentes falta… sentir o que já não sentias há muito tempo…


Nunca ouvira a sua voz tão próxima de mim como estava a ouvir naquele momento. Sentia uma vontade enorme de a abraçar e acariciar, mas nem me dei ao trabalho de experimentar… na verdade, ela não passava de mais uma sombra.
- Por que estou aqui? – Perguntei, humildemente.
Ao dizer aquelas palavras, a expressão da mãe mudou por completo. O seu sorriso desapareceu rapidamente, e os seus olhos deixaram de brilhar tanto.


- Muitas razões me levaram a chamar-te… Acho que já estás preparada…
- Não estou a perceber…
- Tudo o que viveste estes últimos meses, preparou-te para isto, mas… eu não sou capaz…
- O quê, mãe…!
- Se tu achavas que o pior já tinha passado, se já tinhas visto tudo sobre o teu passado e sobre os segredos que se ocultaram estes anos todos, estavas muito enganada. As visões, as sombras que se ergueram diante ti, são apenas uma amostra do que tu podes vir a ver no futuro!
- O quê?
- Tu não fazes ideia do poço de recordações em que vives… Melody.


A sua voz, que já não se mostrava doce, mas sim preocupada e trémula, começou a assustar-me imenso e mal eu sabia o que ela ainda me tinha para dizer...


3 Response to "Capítulo 96"

  • Diogo Says:

    ADOREI! COMPLETAMENTE!
    Pelos cometarios que dei ja estava á espera de uma coisa assim, e as fotos, sao super lindas e tu sabes que é raro eu olhar para as fotos de qualquer que seja a serie!
    PARABENS e por favro continua pk esta está maravilhoso e nem acredito no que esta a acontecer...


  • João Says:

    Meu Deus, fiquei assim :O
    Que lindo! AMEEEI!
    Descrições fantásticas, o desenvolver da história também está amazing, tudo perfeitoo!
    Quero maaaaais! u___________u


  • mmoedinhas Says:

    Eu fiquei assim também!! :O
    Tipo vi o cenário todo branco e pensei, peraí ELA NAO PODE MORRER! E fiquei histerica por um pequeno momento mas depois veio a mãe e ainda fiquei mais histerica e depois pensei que ainda fosse desfalecer, mas yey tudo esta bem e ela nao esta morta... *respira para retomar o folego*
    oK FOTOS LINDAS! Cada vez quero mais aprender a trabalhar com o fotoshop.
    QUERO MAIS!!!!!! EXCITING!!!!!!


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