Capítulo 99

Não levou muito tempo até recuperar por completo e o médico me dar alta do Hospital. Ainda estava decepcionada com o meu pai, quando eu lhe disse que tinha estado com a mãe. Fiquei um tanto ou quanto admirada por ele não acreditar em mim. Sabia que era uma história difícil de digerir, mas mesmo assim estava com esperanças que ele me compreendesse.
Quando voltei para casa, o que não me faltou foi atenção por parte do meu pai, alimentada pela preocupação e receio que eu tivesse mais alguma dor de cabeça, ou até mesmo uma suposta recaída, isto, considerando aquilo que eu tive uma virose ou uma outra e comum gripe. Mas eu sabia que não ia ter mais nenhuma recaída, pois tinha desmaiado para estar com a minha mãe, e sabia que aquele momento não se ia repetir.
- Queres que te traga uma manta, filha? – Perguntou o pai, enquanto fazia questão de me acompanhar para todo o lado da casa, excepto na casa de banho onde eu fazia mesmo questão de estar sozinha.
- Pai, eu já disse que estou bem!


- Da outra vez disseste isso e acabaste numa cama de Hospital!
- Mas eu estou bem, agora! A sério! Não estou a esconder!
- Pronto, está bem… se não quiseres ir à escola amanhã, não vás! Tudo para a minha menina ficar boa!
- Pai, já não sou uma bebé!
- Para mim és! Sempre! Desculpa filha, mas quando tu desmaiaste e… paraste de respirar, pensei que te ia perder! Minha querida filha!
- Pai, já passou! A sério, agora eu estou bem! Vou para o quarto, ler um pouco.
- Vai lá… vou preparar o jantar!


Subi as escadas e encaminhei-me para o quarto. Na minha mesa-de-cabeceira, consegui vislumbrar a fotografia da minha mãe, emoldurada e salpicada pela luz laranja do candeeiro do tecto. Estava particularmente satisfeita, naquele momento. Sabia que ao olhar para aquela fotografia não ia estar a ver nunca mais uma mulher, para mim, desconhecida, mas sim uma heroína que eu admiro amavelmente. Já não ouvia a sua voz na minha cabeça, nem via coisas que iam além da minha imaginação. Já não receava mergulhar nos meus pensamentos sem encontrar algo que me assustasse ou que me intrigasse. Agora só mergulhava em pensamentos inócuos e felizes, os quais eu irei preservar para sempre.
Sentei-me na cama e peguei no meu livro. Na verdade, nem tinha muita vontade de ler, apenas o arranjei como pretexto para escapar das atenções do meu pai, que naquele momento devia estar a preparar o jantar muito cuidadosamente e a pôr a mesa como deve de ser, pondo os talheres na posição correcta e direitos, e não como ele fazia sempre todas as noites, colocando-os à pressa, num lugar aleatório.


Voltei a pôr o meu livro na mesa-de-cabeceira e recostei-me na minha almofada. Apesar da felicidade que me inundava o coração, não conseguia parar de pensar nas supostas visões que eu poderia ter no futuro, tal como a minha mãe me disse. Eu vivia, realmente, num poço de recordações, hostilizado por todas as pessoas que me rodeavam e que se recusavam a acreditar que aquilo era real. A Igreja dos Três Bispos, o poço, a cave, a casa da minha avó e até a minha própria casa, faziam-me pensar no que se tinha mesmo passado, havia anos atrás.
Obviamente que não considerava tudo uma má recordação, muito pelo contrário. Tudo me parecia tão real e feliz que me fazia esquecer todas as outras más experiências. Essas más experiências também não me eram indiferentes. Ainda não as conseguia encarar de sangue frio. A minha discussão com o pai, as várias visões que tive que quase me levaram ao desespero, a morte da minha mãe e o forçado confronto com verdades que eu não tinha coragem de encarar. Todo esse conjunto de más recordações ainda me assustava profundamente.


Fechei os olhos a abanei a cabeça, para tentar esvaziar a minha mente daqueles pensamentos. Para me acalmar, pensei no Jake, que sem dúvida era uma óptima experiência. Tê-lo conhecido fez-me erguer a cabeça e ter uma certa vontade de acordar de manhã e encarar um novo dia, ao seu lado.
O Dave, que na verdade eu não conhecia assim muito bem, também era uma delas. A sua pureza de alma e humildade fizeram-me aproximar-me dele e dar-lhe companhia, no momento em que ele se sentia mais só.
A Cassie, embora as desavenças que tive com ela, também estava nos meus pensamentos. Naquele momento já a encarava como uma melhor amiga, e não como uma fã obcecada da Sarah e uma rapariga histérica. Bem, na verdade, os seus ataques de histerismo continuavam bem altos, mas isso já se tornava irrelevante para mim.
A Sarah… nunca mais tinha ouvido falar dela, desde aquele dia em que eu a confrontei com toda verdade. Perguntava-me onde é que ela estaria naquele momento. Tinha recomeçado a sua vida? Tinha finalmente mudado o seu espírito? Tinha assentado com os pés na terra e encarar a vida de uma forma mais considerável? Não fazia a menor ideia, mas também não consegui mergulhar muito nesse assunto, pois deixei-me adormecer.


Várias imagens fragmentadas passaram-me à frente dos olhos, como flashes. As vozes mantinham-se num ecoo imperceptível.

- Tu estás a dizer que… apesar do número infinito de visões que eu já tive, que ainda há mais?
- Sim…


- Tu não fazes ideia do poço de recordações em que vives… Melody!


- Eu estive com ela, pai! Estive com a mãe!


- Melody… minha linda… vai jantar! Vai… jantar…

Acordei num sobressalto, com o pai mesmo ao meu lado:
- Melody! Anda jantar!


Levantei-me, confusa e ensonada. Com a ajuda incondicional do meu pai, como se eu não pudesse andar, encaminhei-me para a cozinha.

3 Response to "Capítulo 99"

  • João Says:

    Finalmente tudo se está a "endireitar", que fixe!
    Nota-se que está a acabar, e fico triste por isso :S
    Mas tem sido uma história memorável e ficará para sempre guardada como tal!
    Continua!


  • Diogo Says:

    Sim, ate pensei que este seria o ultimo capitulo mas depois neste final ainda dava ideia sabes de o que? da 2ª Temporada...
    Bem, isso nao interessa. Adorei e adorei todos os paragrafos que aqui estão e a foto que amei foi dela deitada na cama já com um ar tranquilo e nao pesado, assusstado ou setressado que ela tinha á uns mesesm!
    Continua pk eu quero maiisssssss


  • mmoedinhas Says:

    Ahhhhh perto do cap 100, eu queria que acontecesse e afinal não tava a sonhar muito alto!´

    É como já se disse aqui, as coisas estão a endireitar ª.ª Mesmo assim ando preocupada com a Sarah, que lhe aconteceu? Tipo ela andava toda emo... hummmmm

    Perto do fiiim Ç.Ç


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