Capítulo 109

Os dias seguintes passaram muito lentamente, como se os minutos se transformassem em horas, e estas em dias. Disfarçava sempre que estava com o pai, mas às vezes não conseguia evitar a nostalgia que sentia dentro do meu coração. Era algo indescritível, algo que me fazia reflectir sobre certas decisões.
E com o passar dos dias não consegui mais esconder aquela tristeza. Começou a tornar-se inevitável. Começava a sentir uma corrosiva vontade de desabafar com alguém, e a pessoa certa era o meu pai.
Enquanto jantávamos, nem eu nem ele dizíamos nada. Limitávamo-nos a comer, olhando ambiguamente um para o outro.
- Mel – falou o pai, enquanto pousava os talheres no prato, demonstrando que não queria comer mais – tu estás bem?
- Eu? Eu estou óptima! – exclamei, desistindo da ideia de desabafar – Porque dizes isso?


- Porque tu não estás bem! Já reparaste no que tu tens comido? E na tua disposição há alguns dias atrás? Porque estás assim filha?
- Eu já disse que… estou bem… - suspirei e pousei igualmente os talheres no prato – Não… não estou bem.
- O que se passa?
Levantei-me bruscamente da mesa, devido à inquietação que sentia naquele momento.
- Pai, eu tenho pensado… pensado mesmo muito! Tenho ponderado, reflectindo… tentando procurar uma resposta para esta minha pergunta… e só tenho encontrado uma… uma apenas!


- Mas… qual pergunta? – perguntou o pai, céptico.
- Será isto o melhor para mim? É nisto que eu tenho pensado pai!
Calcorreava a cozinha para trás e para diante, levando as mãos à cabeça, confusa.
- Melhor para ti? O quê?
- Isto, pai! Esta casa onde vivemos, este sedentarismo do qual nunca nos livrámos! Pai… - sentei-me de novo à mesa, olhando-o nos olhos – desde que o tio Arthur se foi embora não tenho parado de pensar nele!
- Tens saudades? – inquiriu o pai, com o sorriso doce.
- Sim! Mas não se trata disso! Não tenho parado de pensar… na sua decisão! Dele ter-se ido embora! Embora daqui!


O pai levantou-se, com as sobrancelhas franzidas.
- Melody… agora quem não está a perceber sou eu!
- Pai, ouve-me! Tu sentes-te bem aqui? Nesta casa?
- É claro que sim, Mel! Este é o nosso lar!
- Mas tu nunca te sentiste deprimido aqui? Relembrando-te de tudo o que já se passou aqui, no dia em que a mãe morreu?
- Melody, não podemos pensar assim! Pensa também nas recordações boas! Essas não te põem feliz?
- Sim… e não! Mesmo pensando nas recordações boas, nunca me consigo livrar das más! E além disso, no fundo, as recordações boas também me trazem uma certa tristeza!


- O quê? – o pai começou a ficar indignado.
- Pai, essas lembranças apenas me dizem o que eu já sei, e o que eu quero evitar saber! Nunca mais teremos a mãe de volta! Ela está nos nossos corações, sim! Mas não a teremos mais ao pé de nós!
O pai começou dirigiu-se à janela, observando o céu estrelado daquela noite fria de Inverno.
- Ainda não percebi onde queres chegar, Melody…
Inspirei para falar, mas hesitei a início. Não tinha a certeza se ele ia aceitar aquilo ou não. Ele podia até levar a mal!
- Eu quero mudar-me! – exclamei, quando finalmente ganhei coragem para falar – E não só de casa! Quero mudar de cidade!


Ele olhou para trás, deixando de observar o céu repleto de estrelas. Desta vez olhava para mim, com os seus olhos mais arregalados do que nunca, com a boca entreaberta num misto de indignação e consentimento.
Senti um arrepio. Uma voz no meu cérebro, que eu reconheci sendo a da minha mãe, dizia-me:

É essa a atitude correcta, Melody...

E ela tinha razão. Tinha de virar a página, entrar no capítulo final da minha história e recomeçar a minha vida longe de todas as memórias que a marcaram neste último ano. Estava na altura de conhecer-me a mim mesma e construir o meu futuro a partir do zero. As memórias e recordações invadiam-me a alma… Mas o dia de ontem não voltaria a chegar. E apesar de tudo, sentia-me agradecida pelos momentos felizes que presenciei. Iria sempre lembrar-me de tudo o que me tornou na pessoa que hoje sou. E não era nada fácil, dizer adeus. Foram 18 anos da minha vida que eu deitava para trás das costas, para recomeçar. Mas sabia que era a atitude correcta.

Agora podes ser feliz, querida...

Senti-me encorajada e impulsionada pela voz doce e sincera da minha mãe. De facto, era a atitude certa. Eu sentia que sim.


3 Response to "Capítulo 109"

  • mmoedinhas Says:

    ok desculpem a linguagem mas WTF??? queeeee? omg isto e demais para o meu coraçaozinho! ela vai mudar-se! porque? e deixar o jake? a cassie? sarah? (mas essa nao tem grande importancia...) DAVE? deixar o dave??????????????????
    A ultima foto fez-me rir... momento simesco

    *mini saltinhos na cadeira, super entusiasmada, cara de sim-melody-ultima-foto*

    MAISSSSSSSSS


  • Diogo Says:

    Eu por acaso gostava que ela ficasse pelos amigos e ate pelo namorado. Mas vamos ver o que nos trazes mais para a frente!
    Gostei bastante e aquele sorriso na cara é muito bom para alguem que descobriu coisas más!
    CONTINUA SFF


  • João Says:

    *Aponta colher aos olhos da Mel*
    -Ouve cabra, estás a ser tóina, vou-te arrancar os olhos! -.-
    *mel foge*
    -Bem, acho que percebeu a ideia....
    *encaminha-se para o PC, senta-se e começa a escrever comment*
    ESTÁS MALUCOOO? E os outros? A Cassie? e o Jake? e aquela tracalhada toda se Fort Sim? O.O

    Mas bem,confio em ti haha
    Vamos lá ver como é que corre, mas agr subiste demasiado a fasquia! xD
    Continua assim! :D


Postar um comentário