Capítulo 89
A sua cara transparecia dificuldade e tensão, para me dizer tudo sobre o seu passado. Quase que conseguia ouvir o pulsar anormalmente acelerado do seu coração.
- Nunca falei sobre isto com ninguém… é difícil… - Disse o Dave, o seu peito a arfar.
- Tem calma, Dave! Respira fundo! – Exclamei, tentando sorrir para romper aquele momento de tensão.
Suspirou, olhando para vários pontos do tecto.
- Se não quiseres falar, não precisas…
- Não… Já não perco nada em falar. E… é melhor assim, não é?
- Sim… é. – Concordei.
Sentamo-nos os dois nos sofás à entrada da Biblioteca. Estava convicta de que ninguém iria entrar lá, pois estavam todos, ora em aulas, ora nas actividades extracurriculares.
Quando inspirou para falar, o meu coração começou a bater aceleradamente, como se estivesse diante de uma situação muito pior às milhentas situações que já tinha passado. Se calhar, estava mesmo à frente de um problema ainda maior do que qualquer um.
* * *
Enquanto passeava pelo pátio da escola, pensava na conversa com a Melody. O que mais me magoava é que ela fora verdadeira em tudo o que falara. Agora que me punha no seu lugar, conseguia ver como era duro ser rejeitada daquela maneira, e compreendia a sua posição melhor do que nunca. Ainda assim, tinha esperanças que tudo se resolvesse, embora tivesse que admitir que eu não seria, muito provavelmente, perdoada...
Aquela ansiedade começava a ser sufocante. Sentia que tinha de fazer algo mais do que simplesmente esperar que tudo ficasse bem. Estava a sentir-me extremamente egoísta, tinha uma vontade imensa de regressar ao passado e evitar todos os meus erros. Mas o facto de saber que isso era completamente impossível punha-me num estado de extrema ansiedade. Será que eu mereço que ela não me perdoe? O arrependimento não deverá contar?
Quanto mais dúvidas me assolavam a cabeça, mais certezas eu tinha que não ia desistir de recuperar a minha amiga. Queria reviver aqueles sentimentos recíprocos, típicos de uma grande amizade. Queria recuperar o tempo perdido, e, no que dependesse de mim, isso ia acontecer.
* * *
- Quando os meus pais se casaram, a minha mãe já tinha o pressentimento de que aquele casamento iria correr da pior forma. Mas a sua força de vontade e optimismo superaram todos os receios. Ela queria construir a sua própria família, ter filhos e viver uma vida harmoniosa e perfeita, ou quase perfeita. Mas no que dependesse do meu pai, o casamento estava longe de ser perfeito e harmonioso. – Os seus olhos brilhavam de tal maneira que a imagem de rapaz tímido e reservado que era típica do Dave, quase se dissipava.
- O teu pai maltratava a tua mãe… não era?
Assentiu, limpando ligeiras lágrimas com a mão.
- Quase todos os dias eu acordava a meio da noite, com os gritos e choros da minha mãe. Ela vinha ao meu quarto, dizendo que estava tudo bem, com marcas na cara, sangue na sua camisola.
- Mas… porque é que o teu pai fazia isso à tua mãe? O que o levava a fazer tal acto tão cruel?
- Não sei! Nem a minha mãe sabia. Ele chegava a casa muito tarde, bêbedo, e naquele estado, a sua ferocidade proeminente era ainda mais intensa. Ele levava a minha mãe ao desespero e à persuasão, mas nada disso importava para o meu pai. Tudo o que ele queria era ter relações sexuais com a minha mãe, caso contrário, se a minha mãe se recusasse, recorria ao espancamento quase mortal.
- Que horror… - Sussurrei.
- Que horror? Tu não sabes, Melody. Isto é apenas uma amostra do que ele fazia! – A sua voz estava extremamente trémula. – Eu tapava os ouvidos quando ouvia o primeiro grito da minha mãe. Sabia sempre que aquele primeiro grito se iria prolongar pela noite dentro, chegando a não me deixar dormir. Tudo isto sob o efeito do álcool do meu pai, e às vezes por pura insanidade! – Começou a soluçar timidamente, enquanto limpava as demais lágrimas que brotavam dos seus olhos.
- Dave… - Pousei a minha mão na dele. – O que aconteceu depois? Quero dizer… agora… o teu pai continua a maltratar a tua mãe?
- N-não… - Negou, soluçando ainda mais.
Num ápice, pensei que tudo tinha ficado bem para o lado da sua mãe e do Dave, mas os soluços tão intensos e imparáveis levaram-me a pensar rapidamente o contrário.
- O meu pai já não bate mais na minha mãe… - Continuou. – Nem sequer lhe toca… eles estão separados.
- Mas isso é bom não é? – Perguntei, inutilmente, sem saber o que vinha a seguir.
- Eles tiveram de se separar à força.
- Á força? Não estou a perceber…
Olhou para mim, desistindo, e deixando cair todas as lágrimas que já há muito tempo que estavam guardadas.
Aproximei-me dele, envolvendo o meu braço no seu ombro, dando-lhe apoio.
- Pronto… pronto… não chores… o que se passou, Dave? – Perguntei, contendo as minhas lágrimas.
- Foi tudo culpa dele… foi tudo culpa dele! Monstro! Monstro!
- Dave! O que se passou a seguir! O que aconteceu?! Diz-me!
Afastou-se ligeiramente para olhar para mim, coisa que eu não queria que acontecesse, pois as lágrimas também já me brotavam dos olhos.
- A minha mãe… a minha mãe. - Os soluços ofuscavam a sua voz. – A minha mãe… suicidou-se…!
Toda a minha aflição e angústia foi eclipsada, naquele momento, pelo desespero e tristeza. Não tinha palavras para descrever como lamentava o sucedido, tudo o que queria era dar apoio ao pobre Dave, e dar-lhe forças.
ADOREI!
TENHO TANTA PENA DO DAVE! Arranjas-te uma boa situação embora que triste e tenho pena por ter acabado assim mas, adorei, continua sim! é pena so poderes lançar aos fins de semana mas já é bom!
CONTINUA COM O OPTIMO TRABALHO!
:O
Não acredito! O.O
Isto não pode ser verdade....
Mais uma vez conseguiste deixar-me boquiaberto com a tua maravilhosa história, estás de parabéns!
MARAVILHOSO! MAGNIFICENTE!
Amei, totalmente!
Espero por mais. (: