Capítulo 21



Quando finalmente acabámos o trabalho, o Jake apressou-se para a porta, dizendo que ia ter mais um treino e prometendo que ia estudar o tema do trabalho para a apresentação que se ia dar no dia seguinte. Tudo correu da melhor forma, tirando aquele pequeno incidente entre mim e o Ron. Por um lado, fiquei triste por a nossa despedida acabar numa zanga, mas por outro acho que ele merecia, pois ele estava ciente que eu não gostava dele e que apenas queria ser sua amiga, como dantes… mas desde criança que o Ron é feito de uma persistência fora do comum e não descansa sem obter o que quer e hoje não foi excepção. Acho que foi melhor assim… tanto para mim como para ele.
Olhei pela janela, e vi o meu pai a colher algumas alfaces da sua pequena horta, que tanto estimara ao longo destes anos. Estava um dia lindíssimo, apesar daquela constante brisa fria que marca o início do Outono e o fim daquele magnífico Verão com praia, divertimento e calor.
- Tu nunca deixaste essa horta. – Disse eu, caminhando em direcção do meu pai.



- Tu sabes como eu me afeiçoo às coisas. E além disso tenho de começar a colher os vegetais porque o frio está a chegar.
- Muito bem… Afeiçoado e dedicado com as coisas!
O meu pai sorriu enquanto agarrava nas alfaces e as punha no seu cesto.
- Bem, acho que já está. Vou fazer a sopa para o jantar.
- Boa sorte! Acho que vais precisar.
- Não subestimes o chefe George! Sou um perito em sopas. – O meu pai estava bastante bem-disposto.
E num passo apressado encostou o portão do quintal e dirigiu-se para a cozinha.
Eu permaneci no Quintal e apanhar aquelas aragens que as copas das árvores soltavam com o soprar do vento.
Ao longe, avistei a Torre principal da Igreja que se erguia no meio dos imensos bosques de Fort Sim… É incrível… onde quer que eu esteja avisto sempre aquela linda Igreja envelhecida pelo tempo. A melodia proveniente dos sinos daquela torre era simplesmente fantástica. Sentei-me no banco de jardim do Quintal e fechei os olhos, mas mais uma vez, ouvi as gargalhadas da criança. Parece que estão por toda a parte, e eu não sei de onde vêm.
Abri os olhos e deparei-me com uma criança à minha frente. Era uma rapariga muito bonita, com uns olhos verdes claros e cabelo negro como o ébano.



- Olá… quem és tu? – Perguntei eu, mas a rapariga não respondia. Apenas se limitava a olhar apaticamente para mim, o que me começava a incomodar. – Os teus pais? O que fazes aqui?





- Estás-me a ouvir? Como te chamas?
Nesse momento o meu pai veio ter comigo com uma cara muito intrigada.
- Melody! Estavas a falar sozinha?
- O quê? Não! Estava aqui uma criança.
- Não está aqui ninguém… só eu e tu!
- Impossível… - Sussurrei.
Já não percebo o que se está a passar comigo. Estou louca.
- Anda para dentro. O jantar está quase pronto.
Pondo o seu braço, carinhosamente, nas minhas costas, levou-me para dentro.
Ao jantar não disse nem uma palavra, sabendo que o meu pai odeia que eu esteja calada, pois ficou mal habituado quando era pequena, que era bastante faladora.
Quando me preparava para ir dormir, o meu pai não hesitou em perguntar:
- O que se passa contigo? Ficaste calada de um momento para o outro!




- Nada… Vou dormir, estou só cansada…

Dei um beijo ao meu pai e subi para o meu quarto.

Passei a noite a pensar naquela criança que apareceu à minha frente no quintal. Desta vez não parecia uma sombra… uma imagem turva que desaparece com o esfregar dos olhos e fosse considerada uma alucinação… não. Era tão real… tão… humana. Estou tão confusa.


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