Capítulo 23





- Jake… eu não sabia que eras assim… Pensei que querias mesmo competir para…
- Ganhar não é? Mas não. Apenas me quero divertir, mais nada.
Vi que já era tarde, e apressei-me para a última aula do dia…
O pai não me pôde ir buscar à escola, pois tinha alguns processos lá do escritório em atraso, e queria acaba-los hoje. Vim de autocarro e por isso, 10 minutos depois da aula acabar, já eu estava em casa.



Fui temperar o frango comprado a pressa na véspera e fui adiantar algumas tarefas domésticas, já que o computador estava a fazer um scanner e na televisão não estava a dar nada que me apetecesse ver. Assim, fui lavar as mãos, alguma roupa que não convinha ir para a máquina e aproveitei também para lavar a minha mala; que deveria ter lavado nas férias de Verão.





Despejei tudo o que tinha nela para o chão. Desde livros e canetas a bocadinhos de papel e aparas de lápis, tudo foi parar ao chão. Eu não fazia ideia que tinha tanto lixo na minha mala, já para não falar das nódoas que tinha acumulado no tecido de lona preta. Entre todas aquelas coisas, fui descobrir um papel cuidadosamente dobrado. Não fazia a mínima ideia do que poderia ser. Talvez uma ficha esquecida ou um papel sem importância. Desdobrei-o e a minha boca abriu-se de espanto. Era mais uma daquelas cartas de amor:

"Eu amo-te. Provavelmente para sempre. As raízes que criaste em mim são sólidas, quase tão sólidas como o ferro. Gostaria que me amasses deste modo, mas sei que isso não acontece. Talvez um dia possamos ser felizes os dois. Acredita, nada me faria mais feliz. Enquanto esse dia não chega, contento-me com a tua existência. Amo-te de um modo tão intenso, que chega a magoar. E esta dor não me deixa viver. Mesmo que um dia não me queiras, fica o aviso: Eu amo-te.

Assinado: Confidencial..."


Sentei-me no chão gelado da cozinha, sem sequer me importar com as imensas gotas de água que me molhavam a blusa e as calças. Se, por um lado, me agradava a ideia de ter um admirador secreto, por outra não achava piada nenhuma a situação. Nem tão pouco imaginava quem poderia ser. Completamente atónita, voltei a dobrar o papel e guardei-o debaixo do saco de pão. Regressei às tarefas domésticas, mas sem qualquer sucesso. Tudo me correu mal: a água jorrou do balde onde lavava a roupa e inundou a cozinha. O aspirador caiu, fazendo uma racha no pequeno ecrã de vidro e o frango que, entretanto, pusera no forno, queimara. A minha cabeça, mais do que nunca, estava num planeta longínquo. Ouvi o barulho de uma chave a ser introduzida na porta e apercebi-me que vinha o meu pai. Esforcei-me ao máximo por parecer satisfeita e descontraída, mas a minha palidez foi logo evidenciada.

- Hei, Mel! Como correram as aulas? - Perguntou, demasiado contente para alguém que tinha ficado até mais tarde no emprego.



- Correram bem. Pai, vamos jantar?
- Sim, vamos. Mel, esta tudo bem? Estás tão pálida!
- Ah não é nada, pai, não te preocupes. - Respondi, com um ligeiro tremor na voz.
Ele franziu o sobrolho e avistou a carta de amor que eu, despreocupadamente, pusera debaixo do saco de pão.
- Isto é alguma coisa que eu deva saber? Como por exemplo alguma carta da escola? - Exclamou, subitamente desconfiado.
- Não, pai é só... um rascunho... de um trabalho... de Português. É de uma composição.
- Ah, que interessante! Posso ler?
- NÃO! - Gritei, arrancando o papel da mão do meu pai.



Ele ficou espantado, mas não zangado. Analisou a minha expressão e suspirou. Não estava á espera da minha reacção, e estava a ponderar se deveria realmente ler ou não o papel. Eu sorri-lhe, nervosa, e a expressão dele descontraiu.
- Tudo bem! – Disse ele - Vamos jantar?
Ao jantar, falei ao meu Pai da reportagem que iam fazer na minha escola, na qual o centro das atenções ia ser a Sarah. Ele mostrou-se interessado… aliás, o meu pai mostra-se sempre interessado com os meus assuntos da Escola. Quer que eu me socialize e que me dê bem com a nova turma, embora isso seja um pouco difícil, mas não o quero preocupar com assuntos sem importância, portanto finjo que está tudo bem e que já consegui fazer amizades.



Quando acabámos o jantar, reparei que ainda era dia. Disse ao meu pai que ia dar um pequeno passeio, e ele permitiu-me sem nenhuma questão.
Peguei nas chaves e mal abri a porta uma suave brisa invadiu o Hall de entrada. Desci o pequeno lance de escadas da entrada e comecei a andar por caminhos incertos. Não tinha rumo… apenas queria apanhar ar e pensar naquilo que me está a pôr doida: Os meus sonhos, as sombras que eu vejo, as cartas de amor. Tudo isto me está a pôr preocupada.



Primeiro, eu não costumo sonhar com algo que nunca vi na minha vida… Nunca vi aquela criança, nunca vi aquele homem a chorar ajoelhando-se num prado que eu nunca vi na vida… Só tenho a Igreja… e essa sim… eu vi. E parece que há algo nela. Parece que tenho uma espécie de telepatia com aquela Igreja. Eu sei que é estúpido, uma pessoa estar tão atraída por um lugar… mas eu sinto-me bem nele. Sinto todas as minhas preocupações abandonarem a minha mente e deixarem-me na paz e no sossego. Lá não penso nas preocupações que me trituram a mente e me fazem sentir da pior forma possível. E foi nesse momento, que eu finalmente tomei um rumo no meu pequeno passeio.
Virei a esquina de uma pequena rua sem movimento e lá avistei a Igreja. Aproximei-me o máximo que me atrevia e parei em frente aquele lindíssimo monumento. Os sinos balançavam ligeiramente com o vento que penetrava nas janelas partidas e consumidas pela chuva. Da pintura, apenas restavam algumas farpas velhas e frágeis, e já estas estavam prestes a cair. Os arbustos e as árvores, que já algumas folhas perderam com o correr das estações, balançavam em simultâneo.



Fechei os olhos, e finalmente senti a minha mente a ser esvaziada. Senti as minhas preocupações e deveres saírem da minha mente sendo levados pelo vento em direcção àquele infinito céu já alaranjado pelo entardecer do dia.


6 Response to "Capítulo 23"

  • Diogo Says:

    ADOREI! MUITO MESMO! Mas ao mesmo tempo tenho super pena por ela! Uma exelente historia que espero o seu deserolar! OPTIMO TRABALHO!


  • Mr.Lis Says:

    Gostei muito!
    Acho que já sei sem manda as cartas de amor xD


    Parabéns!


  • Tudy Says:

    Obrigado aos dois!

    Lis, sabes? Hummm... vamos ver lol


  • mmoedinhas Says:

    Mil desculpas Tudy, mil desculpas por nao ter comentado mais cedo! Mas é que eu estive de férias com os meus primos e eles parecem aqueles pega-monstros que se fazem em casa. Sempre pegados a nós... Por isso foi impossivel comentar mais cedo. Mais uma vez desculpa!
    Continuando... O capítulo está fantástico! E tambem ja tenho uma ideia de quem manda os papeis... Ate ja o disse num coment. anterior! ( continuo a achar que é o Dave). Espero que esteja certa!

    Continua, AMEI!


  • Tudy Says:

    Não faz mal! Eu compreendo! ^^

    Muito obrigado Mmoedinhas!!! xD


  • João Says:

    AMEI mesmo!!
    Quero mais!!! ;D
    (de qualquer maneira, ja comentei atrasado e vou ler o proximo ja ja... =D)


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