Capítulo 24

Estava completamente aparte da realidade. Apenas olhava para aquela Igreja com um brilho resplandecente nos olhos. Tudo à minha volta tinha deixado de existir, fechando-me apenas no meu mundo. O mundo que eu criei. Um mundo que não existe… apenas no meu coração. Mas tudo desapareceu, levando-me de novo para a realidade, quando o meu pai me telefonou.
- Melody! Onde é que tu estás? Sabes que horas são? – Perguntou o meu pai pouco satisfeito.
- Oh… desculpa pai! Distraí-me com as horas. Vou agora para casa. Tchau.
Desliguei o telefone rapidamente, já me bastava o sermão que ia levar quando chegasse a casa. Não o queria ouvir por telefone.
Quase que corri até casa, olhando algumas vezes para trás, para contemplar a Igreja enquanto podia.



Quando cheguei a casa, o meu pai estava sentado na sua poltrona, olhando para o Hall de entrada com uma cara zangada.
- Melody, tu sabes que eu te dou liberdade… mas não abuses dela!



- Desculpa, pai, distraí-me com as horas e…
- Onde é que foste?
- Huh… fui para um lugar que eu conheço aqui na cidade. Um jardim… - Eu odiava mentir ao meu pai, mas se eu dissesse que tinha ido passear para um Igreja, o meu pai acharia que eu estava a enlouquecer… talvez tivesse razão.
- Que isto não se volte a repetir! – Disse ele, mudando a sua expressão zangada, para aquela que eu adoro profundamente… a expressão despreocupada e sorridente.
Sentei-me no sofá com o meu pai, para lhe fazer um pouco de companhia. Com o passar do tempo, tenho-me esquecido do valor da família. É ela que está presente, nos momentos em que mesmo os melhores amigos nos deixam… está presente nos bons e nos maus momentos. O meu pai desempenha esse papel melhor do que ninguém.
Não levou muito tempo até as minhas pálpebras me caírem e a minha cabeça se aconchegar no ombro do meu pai, coisa que já não fazia há muito tempo.



Passados uns momentos, a única coisa que senti foram os seus lábios na minha testa, sussurrando “Boa noite”, tapando-me com os lençóis e apagando a luz do candeeiro da mesinha de cabeceira.
Acordei na manhã seguinte de Sábado com o meu telemóvel a tocar. Era o Jake.
- Estou? – Atendi, com uma voz trémula do sono.
- Estou, Melody. Desculpa estar-te a ligar a esta hora, mas costumo fazer uma corrida matinal ao fim-de-semana e esqueço-me dos horários dos outros.
- Não faz mal, Jake. O que se passa?
- Nada… apenas queria convidar-te para almoçares comigo. Conheço aqui um restaurante excelente. O que dizes?
- Bem, é muito em cima da hora, mas está bem. Eu vou.
- Óptimo… então encontramo-nos ao meio-dia.
Meio-dia?! Era cedo demais para um Sábado, mas não pude recusar. Olhei para o relógio e ainda era 7:00 H, por isso deixei-me cair de novo na almofada dormindo mais algumas horas, um pouco mal dormidas, coisa que tem acontecido frequentemente nestas últimas semanas.
Levantei-me às 10:00H e tomei o pequeno-almoço. O meu pai estranhou eu levantar-me tão cedo a um Sábado, mas eu expliquei-lhe que ia sair com o Jake, e já se pode adivinhar o que o meu pai disse:
- Isso ainda vai dar numa…
- Pai! Não te atrevas a completar essa frase!
- O que foi? Eu queria dizer que isso ia dar numa grande amizade! – Exclamou ele no meio de gargalhadas.
- Pois, muito engraçadinho!
Dirigi-me á cozinha e fiz os meus cereais. Quase me assustava com o grito de “GOLO!” do meu pai quando uma das equipas, que eu não sei e nem quero saber, marcou. Parece que a Taça Mundial começa cedo. Pessoalmente, nunca gostei de Futebol, mas quando era pequena costumava acompanhar o meu pai nos jogos, era super divertido.
Vesti-me lentamente, escolhendo uma roupa casual, e saí de casa com uma mensagem do Jake a dizer que estava à minha espera na esplanada do restaurante.
O almoço correu muitíssimo bem. Consegui abstrair-me de algumas coisas de uma maneira agradável e animadora. O Jake é bastante conversador, tem sempre um tema de conversa, mesmo que essa seja uma história secante, mas a maneira dele falar torna qualquer história encantadora.
O restaurante onde estávamos era bastante agradável. A decoração era simples e natural. Haviam plantas por toda a parte e uma pequena fonte à entrada feita de pedra branca como a neve.



Depois do almoço o Jake pediu-me para irmos ao Campo de Rugby. Ele disse que as vistas da última bancada eram simplesmente maravilhosas.





- Tu e a Cassie são muito amigas não é? – Perguntou-me ele enquanto olhava para as imensas montanhas de Fort Sim.
- Na verdade, éramos. Digamos que a mudança de personalidade da Cassie contribuiu para um mau clima entre nós. Ele agora tem a Sarah por isso… não deve dar por minha falta.



- Mas… eu não acredito que elas sejam amigas, a Sarah é demasiado fútil para merecer amigas… É mais uma “relação profissional” entre empregada e patroa.
- Sim, mas a Cassie é capaz de trocar uma verdadeira amizade pela “Relação Profissional” entre ela e a Sarah.



- Ela sempre foi assim? – Perguntou o Jake, olhando para mim. – Obcecada e tímida?
- Não… há uns anos, a Cassie foi uma rapariga excepcional. Fazia-me rir a toda a hora. Passávamos tardes infinitas a comer gelados e a rirmo-nos juntas.



- E aqueles olhos. – Continuei. – Verdes claros… eram autênticos Rubis. Aquele cabelo castanho ondulado… Ela era única.



- Mas ela ainda tem olhos verdes… - Disse o Jake no meio de um sorriso.
- Sim… mas perderam a cor com o passar dos anos. Perderam aquele verde de uma rapariga pura, extraordinária e simpática.



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