Capítulo 104

Abri o envelope rapidamente, com as minhas mãos a soar intensamente, pela ansiedade que estava a sentir naquele momento. De quem seria a carta? Eu nunca tinha recebido correspondência…
Dentro do envelope estava uma folha pautada dobrada à pressa, e em anexo outra folha, contrariamente, lisa e bem dobrada. Abri a folha pautada e quase que reconhecia a letra:


“Querido tio Arthur,

Espero que estejas bem. Depois de sair daí não te dei mais nenhuma notícia. Depois de sair fui para casa da avó, pois, não podia suportar a ideia de estar outra vez com o meu pai. Fez-me bem lá ficar… serviu-me para espairecer e esquecer parte dos meus problemas. Aquelas aragens do mar ajudaram-me a refrescar as ideias!
Mas não é bem este o motivo que me levou a escrever-te. Queria dizer-te que já fiz as pazes com o pai… bem, na verdade já fiz há algum tempo, mas só tive oportunidade de te escrever agora. Acho que foi o melhor para mim, não aguentava mais estar separada dele. Apesar de ter passado um bom tempo com a avó, sentia-me mais só do que nunca. O pai é a minha família mais próxima. Se te perguntas por que razão eu o perdoei, não penses muito numa suposta resposta, pois ela está mais perto do que tu imaginas. Se leres o papel que vem em anexo com esta carta finalmente perceberás qual foi a razão que levou o pai a esconder a morte da minha mãe de toda a gente, incluindo eu. Foi assim que eu descobri, lendo essa página do seu diário, e quero que descubras da mesma maneira. Quero que tu e o pai façam finalmente as pazes… já chega de rivalidades entre família, não achas? Acho que chegou a altura de tu e ele se entenderem!

Beijinhos grandes,
Melody”

Estremeci quando li aquela carta. Não esperava aquela correspondência, ainda por cima da Melody. Dobrei outra vez a folha pautada, muito lentamente, e olhei para o envelope que pusera na secretária. Dentro dele estava a folha lisa e perfeitamente dobrada. Seria aquilo a página do diário do George?


Quando peguei no envelope, o meu corpo estremeceu ainda mais. Senti um nervosismo tremendo a entranhar-se no meu peito, coisa que já não sentia há vários anos. Aquele lugar era sossegado demais para eu me sentir nervoso.
Abri o envelope rapidamente, tal era o desespero de ver aquela página, e tirei-a de lá.
Engoli seco e preparei-me para ler. Sentei-me no sofá e abri o papel.

***

- Oi, Melody? Estás no Planeta Terra? – Dizia a Cassie, enquanto acenava incansavelmente, para eu “acordar”.


Na verdade não conseguia descer com os pés na Terra. Não podia deixar de pensar se o tio Arthur teria finalmente lido a carta, ou não. Não conseguia deixar de pensar na sua cara ao lê-la, ou na sua reacção. Iria ele perdoar, finalmente, o pai? Tal como eu fiz? Ou o acto de lhe enviar a carta não passava de uma tentativa falhada?
- Olha, eu desisto… é a tua vez, Jake…
- Amor? Estás bem?
- Huh? Estou, estou…
Notei uma expressão indignada por parte da Cassie, seguido de um som esquisito que esta fez com a boca.
- “Amor, estás bem?” Claro! Claro! Porque não pensei nisso antes, ao invés de me cansar a espernear? Melody, vou começar a chamar-te de “Amor”. Blharc, soa mal!


- Desculpem esta minha ausência, mas… eu fiz uma coisa e agora não paro de pensar nisso…
- O quê? O quê? – perguntou a Cassie.
- Enviei uma carta ao meu tio Arthur, e em anexo coloquei lá a página do diário do meu pai. Aquela em que eu fiquei a saber de toda a verdade, sobre a razão por que o meu pai…
- Sim! – Atalhou o Jake – Então… enviaste-a? Mas… o teu pai não dará por falta dela?
- Espero que não! Mas se der, espero que ele compreenda que foi por uma boa razão. O meu pai e o meu tio, no passado, davam-se lindamente! Não faz sentido darem-se mal agora… já passaram tantos anos…


- Pois… vais ver que tudo se vai resolver! Eles vão voltar a ser amigos! Vais ver! – encorajou a Cassie, sorrindo-me amavelmente.

***

Deixei cair o papel no chão de madeira do escritório. Fixava um ponto da divisão que eu nem me dei conta que estava a olhar. Os meus olhos encheram-se de lágrimas, enquanto levava as mãos à cabeça. Senti um profundo arrependimento, senti-me um cobarde. Não era culpa dele… mas também não podia dizer que era culpa da Melody. Ela fê-lo para bem da minha afilhada… ela queria protegê-la! Mais nada! Mas a sensação de revolta continuava a apertar-me o peito…


Tirei o capuz e a pesada túnica de tecido áspero. Vesti uma camisa, umas calças e uns sapatos. Penteei-me e lavei a cara.
Estava pronto. Saí de rompante do escritório e fui ter ao altar. Olhei para a porta da saída, onde penetrava a luz do sol pela manhã.
Sabia onde é que ele estava… sabia onde ele morava… sabia para onde ir, então…

4 Response to "Capítulo 104"

  • mmoedinhas Says:

    O.O Ele vai a casa dele! Ele vai a casa dele! AAAAAAHH omg, o dia veio... Tudo vai ficar bem yupi! *dança feliz*
    Concordo com a Cassie, eu tb acho que amor soa mal xD
    LOL, a cassie e a mel com casacões e o jake com t-shirt... Vai apanhar uma constipação! hehe

    Cada vez mais perto do fim... Será que vai chegar aos 110? :O


  • Diogo Says:

    QUE LINDOOO!
    ADOREI TUDO, TUDO A CARTA e espcialmente a frase daquela sensação do peito que eu bem conheço infelizmente!
    MARAVILHOSO!
    Continua, quero ver "o novo" tio :p


  • João Says:

    OMG OMG OMFD! HAAAA!
    É Agorrrraaaaaaa! Yauh!
    Reencontro de famelga! Ele vai falar com o papá da Melzita! YEY! VIVA ELE!
    Está perfeito, continua!


  • Broken Doll ♥ Says:

    de onde são o casaco e os tenis da melody ?


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