Capítulo 105

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Cheguei a casa encolhida pelo frio que se fazia sentir naquela tarde, acompanhado por um forte vento que anunciava uma tempestade. Mal entrei em casa pousei a minha mala no chão e fui ter com o pai, preparada para lhe contar que tinha enviado a página do seu diário ao tio Arthur. Ele tinha o direito de saber… afinal foi ele que a escreveu, e foi ele que sempre a conservou desde a morte da mãe.
Ele estava no quarto, a ler um livro. Olhei pela fresta da porta, e não pude deixar de reparar na sua tranquilidade. Há muito tempo que não o via assim, tranquilo, com os seus óculos postos, sentado na sua poltrona a ler um livro. Mas tive de interromper, batendo à porta.
- Entra filha! – exclamou, enquanto pousava o livro e os óculos na mesa de apoio mesmo ao lado da poltrona – Como correu a escola?
- Olá pai… bem, correu bem! Hum, pai… queria contar-te uma coisa.


- Diz, filha!
Quando me preparava para lhe explicar tudo, alguém tocou á campainha.
- Quem será? – indagou o pai.
Levantou-se da poltrona e desceu as escadas. A sua tranquilidade fez-me acreditar de que ele ainda não tinha dado por falta do papel, o que me deixou mais descansada.
Desci as escadas lentamente, enquanto observava o pai a ir até à porta. Espreitou pelo ralo desta e no instante a seguir a sua expressão mudou. Quando tirou o olho do ralo, olhou para mim com os sobrolhos franzidos, com a boca entreaberta. Abriu a porta, e partilhei o mesmo surpreendimento com o pai.
- Arthur?! – inquiriu o pai, enquanto o olhava fixamente.
- Olá! – saudou o tio Arthur, com uma expressão insegura que denotava arrependimento de estar ali, por ver as nossas caras impressionadas.
Não deixei de reparar no saco que o tio trazia. Era um saco de tamanho médio, já um pouco velho. Mas deixei-me logo de observações.
Para quebrar aquele silêncio que alimentava rapidamente um ambiente de extrema tensão, desci as escadas a correr e fui dar um beijinho ao tio.
- Tio! Que bom ver-te!
- Olá, Melody! – exclamou ele, enquanto me retribuía o beijo.
De seguida olhou para o meu pai, sorrindo ligeiramente. Este ainda não tirara a sua cara de espanto.
- Então? – disse, no meio dos dois, que estavam parados um em frente ao outro – Não se cumprimentam? Dêem lá um aperto de mão!
O tio Arthur estendeu a sua mão, ainda com um grande sorriso na cara. O pai, a grande custo, também ergueu a sua mão, dando os dois um aperto de mão.
- O que estás aqui a fazer? – Perguntou o pai, secamente.


O tio olhou para mim, sorrindo-me simpaticamente. Depois voltou a olhar para o pai, voltando à sua expressão ansiosa:
- Eu… queria falar contigo! Se puderes!
- Claro que pode! – Exclamei logo a seguir – Não é pai?
- Na verdade eu…
- Vês, tio? Ele pode! – Interrompi.
- É de extrema importância! Não me peças para adiar… porque não consigo! – Acrescentou o tio.


- Bem, eu vou fazer os trabalhos de casa. Até já!
Subi as escadas, e quando cheguei ao último degrau parei. Assim que ouvi o pedido do pai, para o tio Arthur se sentar no sofá, desci mais dois degraus e sentei-me nestes, para escutar a conversa. Já sabia qual era o assunto que o tio queria falar, mas não podia ficar no quarto sem ouvir nada.


O tio entrou na sala, olhando em redor, como que recordando os bons momentos que lá passou, a ver sessões de futebol com o pai, jogar às cartas, a falar com a minha mãe. E ele mal desconfiava que eu estava ali.
Sentou-se num dos sofás e aguardou que o pai se sentasse também. Quando este se sentou, perguntou:
- Então, o que queres falar comigo? – A sua antipatia estava-me a irritar solenemente.
- É sobre a morte da minha irmã!
- Passados dezoito anos ainda não tiraste o assunto da cabeça? – O pai soltou uma pequena gargalhada – Mas está descansado! A Melody já sabe de tudo! Não precisas de te preocupar mais…


- Não é disso por que vim aqui! Eu sei que a Melody já tomou conhecimento de tudo… eu sei.
- Como é que sabes?
O Tio Arthur não quis responder à pergunta, presumindo eu rapidamente uma resposta: o tio Arthur não podia dizer ao pai que eu tinha mergulhado num poço que me levou ao meu passado. Tirou do seu bolso a carta que eu lhe mandei. Abriu-a, tirando de lá as duas folhas. Colocou a primeira, a carta que eu escrevera, e pô-la em cima da mesa de centro.
O pai pegou na carta, mas não a leu, aguardando por uma explicação mais específica por parte do tio.
- A Melody enviou-me esta carta, e em anexo, como podes ler na carta, ela colocou isto – tirou do envelope outra carta, perfeitamente dobrada, a página do diário do pai.
Dessa vez ele fez questão de abrir a página.
- A Melody fez questão de me enviar isto, para eu saber de toda a verdade. Não a que todos já sabem, mas o segredo que guardaste contigo durante dezoito anos: a razão por que te levou a esconder a morte da minha irmã.


O pai pegou na página do seu diário lentamente, com os olhos arregalados, sem dizer uma única palavra.
- Ela enviou-te isto?
- Sim. Ela queria que eu soubesse. Queria que tu e eu fizéssemos as pazes! George… eu devo-te um pedido de desculpas! Eu sei que qualquer um reagiria assim, também tens de compreender que eu não sabia de nada naquela altura, e que estava a agir de cabeça quente, mas não podia fazer nada…
- E eu? Podia?
- Não…
- Todos estes anos estive encarregue de uma missão, proteger a Melody! A minha esposa pediu-mo! O que poderia eu fazer? Quebrar a promessa que fiz, dias antes da sua morte? Arthur, era a única coisa que me fazia levantar de manhã! Era a única coisa que me fazia ter forças para encarar o dia!


- Eu sei! É por isso que vim aqui! Para te pedir desculpa! Eu sei que não agi da melhor forma, e que não te demonstrei o mínimo de apoio naquela altura tão difícil! Quero que voltemos a tratar-nos, não por cunhados, mas sim por amigos! Grandes amigos! Eu sei que errei!
- Não sei… amizade não foi a coisa que me demonstraste nestes últimos anos…


- Eu sei! Desculpa-me! Estou arrependido!
Passados uns instantes o pai levantou-se do sofá. Presumi logo que ele iria utilizar as escadas, por isso levantei-me rapidamente, fui para o quarto e sentei-me na cama. Tirei da minha gaveta dois livros e abri-os numa página qualquer, fingindo que estava a fazer os trabalhos de casa.
Mas não foi preciso encenar nada, porque o pai me chamou mesmo lá de baixo das escadas.
- Melody! Chega aqui!
Levantei-me da cama e desci as escadas. A cara do pai continuava apática.
- Sim, pai?
E nesse instante, abriu um ligeiro sorriso e olhou para o tio Arthur.
- Prepara a mesa, o Arthur vai cá jantar!

4 Response to "Capítulo 105"

  • Diogo Says:

    QUE FINAL MAGNIFICOOO DESTE CAPITULO, sim pk este capitulo pode acabar agora a historia espeor que nao :P
    Adorei muit, todos os sentimentos que eles esprimiram
    Continua


  • bichon Says:

    Ai! Adorei a última parte. Quando parecia que ele tava indeciso, ele diz que o Arthur vai jantar com eles! Yei! Vai tudo acabar em bem! Amei!


  • mmoedinhas Says:

    lol o final foi demais!!!!!! Eu a pensar que o pai lhe ia dar com os pés xD
    ADOREI! Finalmente está tudo bem outra vez! yuppi!!!!!!!!
    O Arthur na ultima foto tava com uma cara tao fofi :3

    AMO!!!!!!!


  • João Says:

    LINDO PERFEITO AMEII!
    Está bue fixe, amei a conversa deles, o Arthur tava bue coiso... o.o Tava desesperado!

    Continua assim! :D


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