ÚLTIMO CAPÍTULO

* * *


Sentei-me nas bancadas do campo de rugby. Visto da perspectiva de um adepto, era tudo muito diferente. O relvado, húmido e fresco, brilhava á luz ténue do sol. As bancadas encontravam-se completamente vazias, o que dava ao estádio uma imensidão diferente e um aspecto levemente lúgubre. Atrás do campo, erguia-se a igreja dos Três Bispos, que tanto marcara a vida da Melody. Sem dar por mim, comecei a pensar nela. Relembrei quando ela me vinha dar um beijo de incentivo, ou assistir aos treinos, e na primeira vez que lá veio… pedi-lhe que fosse buscar a bola e nem soube o seu nome para lhe agradecer devidamente. Fiquei o resto do dia arrependido com o meu gesto. A pensar no que ela achava de mim, se não passaria de um rapaz convencido ou algo mais…


A brisa gelada obrigou-me a vestir o casaco, e o frio que se instalara gelava-me as mãos. Só não conseguia entender se o frio era exterior ou interior… havia um vazio na minha alma e no meu coração para o qual eu não arranjava nenhuma explicação. A Melody tinha traído os meus sentimentos, tinha mostrado da pior forma que não gostava assim tanto de mim. Mencionara tantas vezes o respeito… mas ela também não me respeitara. Não compreendera a dor que eu sentia, o quanto me custava ver a única rapariga de quem realmente gosto a fugir-me dos braços. Para ela, o importante era o seu bem-estar. O egoísmo, nunca antes detectado nela, parecia agora tão obvio… Sentia-me tão triste por tudo isso.

De repente, todo o ciclo perfeito em que a minha vida se tornara, parecia desmanchar-se. A rapariga que eu amo, vai-se embora para sempre. Sem demonstrar a mínima consideração por mim. E isso é mais que suficiente para me deitar abaixo.
E nesse momento, de longe, ouvi uma voz estridente, a chamar pelo meu nome. Olhei na direcção de onde supostamente vinha a voz, mas a luz intensa do nascer do sol encandeava-me. No entanto, à medida que a pessoa se ia aproximando, eu ia vendo a sua cara aos poucos, e vi que era a Cassie.
Suspirei e desci as escadas das bancadas para ir ao seu encontro. Ela estava com cara de poucos amigos, apoiando-se no corrimão da entrada das bancadas, respirando profundamente.
- Estás a correr a maratona? – perguntei, sorrindo.


Passados uns segundos, ela levantou a cabeça, com um olhar maléfico a fixar-me constantemente, arfando ainda com mais intensidade.
- Seu… seu…! – começou a dar-me murros nos braços e nas costas, embora não me doesse nada. – Seu estúpido, covarde, cabelo-lambido, mal cheiroso… já te disse que és… ESTÚPIDO??



- HEI! Acalma-te, miúda!
- O quê? Como é que queres que eu tenha calma se a tua própria namorada está prestes a ir-se EMBORA!?
- Ela escolheu o seu caminho – disse, rispidamente – não tenho nada a ver com isso!
A Cassie voltou a dar-me pancadas nos braços, que doeram um pouco mais, seguidas de gritinhos histéricos, no meio dos quais só se ouvia a palavra «Estúpido».
- SEU ESTÚPIDO! VAI IMEDIATAMENTE DESPEDIR-TE DELA! AIIIII, se eu pudesse atirava-te com pedras... não! PEDREGULHOS a essa cabeça que apenas tem palha no interior! Tu não percebes que a Melody está triste? Ela não pára de pensar em ti, seu búfalo-jogador-e-capitão-da-equipa-de-Rugby!


Segurei-lhe nos braços e tentei acalmá-la.
- A Melody está triste?
- SIM! Seu estúpido! Cada vez que passavas por ela, ela ficava de rastos! Como é que foste capaz de a tratar assim? Não tens sentimentos? Ela ama-te, seu Monte de Músculos!


Por instantes, a voz da Cassie transformou-se num ruído turvo nos meus ouvidos, ficando a pensar na Melody, vindo-me a imagem dela a ir-se embora de Fort Sim à cabeça, sem sequer me poder despedir. Foi então que a voz da Cassie voltou a transformar-se em guinchos agudos que me faziam zumbir os ouvidos.
- Cassie! Ouve! OUVE-ME! A Melody ainda está aqui em Fort Sim? Ainda está em casa?
- Achas que eu sei, seu… espera! Tu queres ir ter com ela?
- Isto resultaria se parasses de me fazer perguntas!
- Vai a casa dela, ainda é capaz de lá estar! Mas despacha-te! Não é por acaso que tens essas… pernas de atleta…

* * *

A caixinha de música permanecia entre as malas de viagem, a tilintar a sua maravilhosa melodia. Fiz questão de não a misturar com todos os meus outros pertences que se encontravam espalhados por todas as malas. Quis que ela ficasse fora das malas, para poder ouvir o seu doce tilintar. Mas daquela vez, tudo era diferente.


A melodia que a caixa emanava, não me chegava apenas aos ouvidos, mas sim aos quatro cantos daquele quarto, provocando um ecoo intenso. À medida que me deslocava no chão de madeira, esta ia estalejando, provocando ainda mais ecoo. Olhei para as paredes… nuas. Estavam sem molduras, apenas com os pregos que as seguravam. Olhei para o sítio onde supostamente estava a minha cama, mas no seu lugar apenas estavam alguns parafusos. O quarto estava vazio.


Olhei pela janela, visualizando um cartaz a dizer: «VENDE-SE». Olhei para a porta da entrada, e de lá saíam homens de estatura forte a acartar os sofás e as mesas de apoio da sala, colocando-os dentro de um enorme camião, que ostentava um logótipo psicadélico explicitando a palavra: «MUDANÇAS».


Peguei nas minhas malas. O peso que estas retinham faziam-me doer os braços e perder a visibilidade do chão. Desci as escadas e pousei as malas na entrada, para vislumbrar a sala por uma última vez. Esta encontrava-se vazia também, fazendo-me lembrar da quantidade de acontecimentos que esta retinha. Desde as mais alegres sessões de Sueca, nas quais o meu pai me deixava sempre ganhar, até à inacreditável pirâmide de paus de gelado que eu tinha feito em conjunto com o meu pai, quando era pequena.


- Ah, óptimo, tens tudo preparado! – exclamou o pai, muito bem-disposto, esfregando as mãos de satisfação enquanto se encaminhava na minha direcção. – Deixa estar, eu levo essas malas para o porta-bagagem do carro. Vai lá ter quando quiseres filha!


Dirigiu-se para junto do carro, enquanto eu, antes de sair também, observava a sala durante mais alguns segundos. De lá de fora, conseguia ouvir o meu pai a resmungar:
- HEI! Tenha cuidado com isso! Isso não é um martelo lá da Oficina! É um jarro!
Peguei na minha mala pessoal, semelhante a uma mala de missangas, onde estava guardada a caixa de música e as fotos de mim e da Cassie. Dirigi-me para o exterior da casa, onde podia observar mais detalhadamente o painel de Venda da casa. Reparei que ao lado de palavra «Vende-se», encontrava-se a palavra «Vendida».
- Eles são de confiança… - disse o pai, aproximando-se de mim e envolvendo o seu braço no meu ombro - … os Compradores! São um casal sério! Não tens de te preocupar!
Não respondi, apenas me limitando a sorrir, e encaminhei-me para o carro, onde coloquei a mala de missangas no banco da frente. E quando fechei a porta, ouvi uma voz na minha cabeça. Uma voz muito distante, quase inaudível, que chamava pelo meu nome desesperadamente. E com o passar do tempo, essa voz ia-se intensificando, aproximando-se cada vez mais de mim.
- MELODY! MELODY!
Foi então que percebi que aquela voz não era nenhuma ilusão, mas sim real! Olhei para trás, e vi o Jake a correr freneticamente na minha direcção, não parando de chamar pelo meu nome, sorrindo à medida que se aproximava.


Senti um enorme formigueiro na barriga, seguido de uma falta de ar incomum. Fiquei imóvel durante vários segundos, vendo ele a aproximar-se de mim cada vez mais.
E quando finalmente chegou junto a mim, agarrou-me e beijou-me amorosamente na boca. Instantaneamente, retribui o beijo, ficando envolvida numa onda de calor intenso como nunca antes sentira.


Quando os nossos lábios se afastaram um do outro, o Jake fez questão de não me deixar falar, suplicando que o deixasse explicar tudo.
- Melody! Que bom que ainda não te foste embora! Ouve… desculpa! Desculpa-me! Eu não te devia ter falado daqueles modos naquele dia! Fui um estúpido, nem sequer pensei nos teus motivos!
Uma alegria sobrenatural invadiu-me o peito, enchendo-me de esperança e felicidade.
- Jake… não tem importância! Estás aqui! É o mais importante! – exclamei, sorrindo-lhe intensamente.


Ele retribuiu o sorriso e acariciou-me a cara, dizendo, ternamente:
- Realmente… eu não faço ideia da sorte que tenho… por te ter a ti! A rapariga mais doce e bonita que já conheci! Eu amo-te, Mel! Amo-te!
- E eu a ti! E eu a ti, Jake! – as lágrimas começaram a inundar-me os olhos, não conseguindo evitar um soluço instantâneo.
E nesse instante, de dentro do carro, o meu pai avisou:
- Melody! É hora de irmos! Os homens das mudanças não gostam de esperar!
- Sim! Só mais dois minutos pai! – respondi, olhando-o pelo vidro aberto do carro.
Quando voltei a olhar para o Jake, este voltou à sua expressão triste e carinhosa.
- Então… vais-te embora agora?
- V-vou! O meu pai diz que temos mesmo de ir…
- Melody… - interrompeu o Jake. – Quando acabar o Liceu, prometo… prometo que irei arranjar uma vaga para uma Universidade, na cidade para onde vais! Prometo! E aí podemos ficar juntos! Juntos, meu amor! E levo a Cassie, também!


Sorri-lhe, acariciando-lhe a cara humedecida pela transpiração.
- Fico à espera…
E ao dizer aquelas palavras, beijei-o carinhosamente, esquecendo tudo o que se encontrava à minha volta, focando-me apenas no Jake. O mundo pareceu parar de girar… o tempo pareceu paralisar. Apenas me concentrava naquele momento, a sentir o calor do seu corpo por uma última vez…
- Não me risques ainda do mapa, miúda – sussurrou-me ao ouvido, dando-me um beijo na bochecha.
- Jamais! – disse, firmemente.
Entrei no carro e fechei a porta, vendo-o ainda a olhar para mim com uma expressão desnorteada, como se ainda não acreditasse que aquilo fosse real. O pai fez ignição e arrancou com o carro. Olhei para trás, vendo a imagem do Jake a afastar-se progressivamente. Este acenava-me freneticamente, despedindo-se com uma expressão de carinho.


Voltei-me para a frente. Olhei para o meu pai, que ainda detinha um genuíno sorriso, e acariciou-me a cara, como que dizendo que tudo ia correr bem.
Eu sabia que tudo ia correr bem. Estava de consciência limpa naquele momento, pois sentia-me segura junto do pai. Estava no auge de mudança da minha vida, que dera uma volta de cento e sessenta graus num espaço de quatro meses.
Acariciei a medalha do meu colar, com a lua e a estrela meticulosamente esculpidas. Sorri ligeiramente, e olhei em frente, para o caminho que ia seguir.
Sei que desiludi muitas pessoas, que as deixei para trás, virando-lhes as costas, e sei que vou sentir muitas saudades de grande parte dessas pessoas, mas, ao sair desta cidade, deste poço de recordações, sei que tomei a decisão com que eu me sinto bem, a decisão que, pode não mudar a minha vida, mas que faz com que, pelo menos por enquanto, eu me sinta bem comigo própria, e que me faça sentir que daqui para a frente possa ser mais feliz...


AGRADECIMENTOS:

Tal como todas as séries que já fiz, aqui fica o momento de antena dos meus apoiantes!

Desi – Todos sabem quem é este xavalo! xD É como se fosse o meu mano emprestado, um dos meus SUUF’s que sempre me deu apoio em todas as minhas decisões, e que sempre me incentivou em todas as minhas séries! Por isso, do fundo do meu coração, agradeço-lhe imenso!

Nádia – Esta minha amiga deve ser novidade para a Comunidade Simmer, daqui! Para quem não sabe, a Nádia é uma grande amiga minha, para a qual não devo um simples “Obrigado”. A Nádia ofereceu-se para colaborar comigo nesta história, escrevendo excertos na maior parte dos capítulos, como certas descrições ou diálogos que eu lhe incutia. Por isso, também lhe agradeço imenso, e um grande beijinho!

Diogo Simões – Por ter seguido sempre a série, tal como todos aqui presentes, por me ter dado opiniões sempre que eu assim o desejava e por me apoiar sempre! ;)

Mmoedinhas – Quem é que não conhece a Master of Comments? Quem não conhece a autora dos maiores Clássicos de sempre? Claro que toda a gente conhece a mmoedinhas, como sendo a rapariga dos asteriscos e aquela que se assemelha mais à Cassie! Do fundo do meu coração, agradeço-lhe imenso, não só pelos comentários hiper-mega-fabulosos, mas como também pelo apoio e por ter sempre acompanhado a série à risca!

E, claro, agradeço a TODA A COMUNIDADE do Fórum, que sempre me deixou opiniões no Tópico da Melody, que sempre me motivaram para a realização desta série! Dentro desse grupo incluo a Bichona, a Carina, as Ritas, a Joana13, o Lis, a Kathuxa e entre muitos outros!
Muito obrigado a todos, porque sem vocês, com certeza que esta série nunca se teria realizado!

4 Response to "ÚLTIMO CAPÍTULO"

  • João Says:

    Simplesmente perfeito, meu amigo, simplesmente perfeito! Foi uma série que jamais esquecerei, amei, vivi esta história, que acabaou da melhor forma possível. Todo o clima que criaste em volta desta maravilhosa narrativa foi algo que sempre valorizei e que fez com que mergulhasse dentro de Fort Sim, daquela cidade onde a vida da Mel mudou por completo.
    Espero que escrevas muitas mais séries como esta, que demonstram a tua mestria na escrita e não só fazem-nos sonhar e querer ler avidamente cada capítulo do que escreves.
    Um sincero obrigado, e que nunca, mas nunca te esqueças de que terás sempre o meu apoio, no que quer que faças, que eu vou estar sempre ao teu lado.
    Foi magnífico.

    E muito obrigado, mesmo. É provável que já tenha dito isto, mas repito. :D

    Atra esterní ono thelduin
    Mor'ranr lífa unin hjarta onr
    Un du evarínya ono varda.


  • Diogo Says:

    Muitos parabens pela historia toda. ainda me lemnro como começou com as letras gigantes a dizer Melody e tudo o mais.
    Foi uma optima serie o qual tive todo o gosto em acompanhar, e espero por mais historias tuas tenham ou nao longa duração. TUDO importa!
    PARABENS e que a Melody seja feliz :D


  • mmoedinhas Says:

    Eu nao acredito que acabou! Isto passou tao rapido!!! Era tudo tão fantástisco!!!
    Eu.. Eu nao sei o que dizer... Juro que larguei uma lagrima ou duas nos agradecimentos *tá bem mais, confesso :')*
    Eu espero que escrevas mais senão todos iremos ficar nostalgicos tipo copia da melody :O A sério tens um dom que não podes deixar de usar, historia, fotos, nao consigo para de dizer que foi tudo maravilhoso! 115 capitulos! Nem toda a gente consegue escrever 115 capitulos fantásticos sem se tornar repetitivo. Esta historia teve sempre uma surpresa, um momento de drama, comedia... "Melody" não pode ser descrito por palavras! Foi fantástico!
    Vou ter saudades da mel (principalmente do Dave... DAVE Ç.Ç iras ficar para sempre guardado no meu coração!). Espero que agora tenhas uma nova vida feliz, mel. Mereces!
    JAKE VAI ATRAS DELA RAPAZ, PEGA NA MOTA, FAZ QUALQUER COISA, por amor de deus... leva a cassie, leva a escola toda, sei la ate a sarah, os teus colegas de desporto, mas deixa o dave que é para mim! >.<

    E agora tenho de me despedir. Como a historia tinha de acabar este comment tem de acabar :(
    FICO A ESPERA DE MAIS! Podes contar sempre com o meu apoio! :D

    Deg deg


  • bichon Says:

    Eu nem sei o que dizer.:´( Estou tão emocionada com o final desta magnifica série e com os comentários finais... -.- Muito obrigada, por nos dares este presente! :D
    Vou ter saudades! Espero que nunca deixes de escrever para nós.
    ^^


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