Capítulo 04

Depois de um jantar que o meu pai preparou com 1 hora e meia de antecedência, fui ver televisão. Assim que acabou uma das minhas séries preferidas, daquelas em que tudo corre mal à personagem principal e ela deseja profundamente que tudo fosse diferente na sua vida, pus-me a ver um documentário sobre a vida marinha.
Estava cansadíssima: os músculos pareciam não querer se mexer, a cabeça estalava e de cada vez que pestanejava, tinha de fazer um esforço sobrenatural para não adormecer. As pestanas pesavam-me como chumbo, e só me lembro de ouvir o meu pai escovar os dentes. Porque depois disso, adormeci, no sofá da sala com a televisão e as luzes ligadas.



Acordei com o irritante som do despertador. O que me pareceu estranho porque tinha adormecido no sofá, se calhar o meu pai levou-me para a cama. Desliguei o despertador e mudei de posição na cama, continuando a dormir, mas poucos minutos depois já o meu pai me estava a chamar. Levantei-me, pois pedir mais cinco minutos não me adiantava de nada.



Fui tomar um duche, talvez me tirasse o sono. Tomei o pequeno-almoço e fui para a escola.
Para começar o dia, deparei-me com uma situação um pouco desagradável. Vi aquele rapaz dos livros… o Dave… Estava muito intimidado e com os livros espalhados no chão.
- Vê lá para onde andas caixa de óculos! Não te atrevas a impedir-me o caminho! – Exclamava Sarah muito enervada.
- Desculpa, foi sem querer! – O Dave estava aterrorizado.



- Não me interessa! És um desastrado! Volta para o sítio onde pertences! A Biblioteca!!!! E não me obrigues a passar por cima dos teus livros! Apanha-os!
Eu fiquei embasbacada a olhar para aquela discussão, como é que a Sarah podia ser tão arrogante? Uma rapariga que devia ser simpática e bem-educada com aqueles que a admiram é exactamente o oposto…



O Dave foi a correr para a Biblioteca, a chorar de vergonha. Eu segui-o até lá. Quando lá entrei, perdi-o de vista. A Biblioteca era um lugar enorme com dois andares de imensas estantes lotadas de livros. O silêncio predominava naquele sítio, apenas se ouvia o rebentar dos balões de pastilha elástica da Bibliotecária. Andei por entre as estantes, até que ouvi um pequeno soluço. Andei mais um pouco, até que vi o Dave a chorar, rodeado de livros e computadores.



- Dave? – Chamei eu.
Ele virou a cara para mim limpando apressadamente as suas lágrimas.
- Não tens de chorar por causa do que ela te disse! Não ligues! Ela é uma rapariga fútil e que se acha superior… não tens de te importar com o que ela pensa de ti.
Ele continuou a chorar, encostando-se a uma estante… E eu, para quebrar um pouco aquela sua melancolia passei às apresentações:
- Eu chamo-me Melody! Muito prazer!
Ele levantou a sua face e disse:
- Obrigado…
- Pelo quê?
- Por estares aqui a apoiar-me…
- Sabes, eu já vi muitos casos destes… Odeio que as pessoas desta escola pensem que vivemos numa “Hierarquia Escolar”… Somos todos iguais… mesmo a rapariga mais famosa do país.
Ele sorriu para mim, e nesse momento deu o toque para a entrada. Ele levantou-se logo muito apressado e correu para a aula.

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