Capítulo 05



Durante a aula de Matemática a professora chamou o Dave ao quadro, e eu fiquei boquiaberta. Ele fez uma equação em menos de dez segundos… E, também reparei numa coisa: O Dave parece outra pessoa quando se vê á frente de um desafio, mesmo que esse seja realmente fácil e simples de resolver, mas mesmo assim, notei um grande fascínio por parte dele. Naquele momento ficou absorvido pelo quadro sem olhar para trás nem para a professora. Não falou nem sussurrou. Fez aquela equação com tanta confiança que até parecia que era uma coisa tão comum como respirar.



- Muito bem, menino Dave está certíssimo! – Exclamou a professora muito satisfeita.
Ele voltou ao seu lugar, de novo tímido e fechado.
No final da aula fui falar com a professora em relação a ele.
- Professora ele é gozado por todos. Ele fecha-se na Biblioteca durante os intervalos todos, sem conviver com ninguém. Já tentou falar com ele?
Por coincidência aquela professora era a minha Directora de Turma.
- Sim, Melody, eu já tentei falar com ele… Mas ele fecha-se e não me conta nada. Eu já tentei falar com a sua mãe, mas ela nunca está disponível.
- Já não é a única… - Sussurrei eu. – Obrigada professora.
No intervalo deparei-me com outra situação embaraçosa… “Precisa-se de arrumadora de Cacifo”.



Eu quase me ri com aquele cartaz, como é que o Director da Escola deixou a Sarah, ou os seus guarda-costas, pôr aquele cartaz tão desnecessário, quando existem iniciativas a favor do ambiente e para caridade que não foram divulgadas? Acho que já sei a resposta.
Um pouco tonta e lunática, virei-me para trás… E qual não foi o meu espanto, que ao mesmo tempo não foi espanto nenhum, ver a Cassie a falar com a Sarah. Fiquei de olhos arregalados e observar aquela situação, até que a Sarah fez um movimento afirmativo com a cabeça, o que deixou a Cassie muito excitada.



Correu na minha direcção e, ofegante, disse:
- Fui escolhida! Vou ser arrumadora do Cacifo da Sarah Mello!



- O quê? Mas tu perdeste a cabeça? – Perguntei eu indignada.
- Não! Ela é tão simpática! Vai-me dar cinco minutos de intervalo para eu comer!
- Oh sim… muito simpática.
Eu estava perplexa com aquela atitude da Cassie. Sabia que era uma grande fã da Sarah, mas nunca desconfiei que ela pudesse fazer isto, e ficar felicíssima porque lhe deram apenas cinco minutos de intervalo.
O dia foi passando, lentamente, com algumas atitudes invulgares da Cassie, e snobs da Sarah. O ano lectivo só começou há dois dias, e eu já estou farta da escola.
Almocei na cantina da escola. A comida não era propriamente boa, mas também não tinha muita fome. Sentei-me ao pé dos meus colegas, mas era como se estivesse sozinha. Eles não falavam comigo e de cada vez que eu metia conversa olhavam-me irritados e ignoravam-me. À tarde, depois da aula de filosofia que correu particularmente bem, fui para casa de carro com o meu pai, que nesse dia, por uma razão que já não me lembro qual, saiu bastante mais cedo que o habitual. Fui eu quem fiz o jantar: lasanha.
- Muito bem, filha. Já cozinhas muito bem - disse o meu pai, sorrindo, enquanto se servia pela quarta vez. De certo as refeições cozinhadas por si não lhe sabiam muito bem.
- Tenho de aprender, não é? A mãe nunca está aqui para fazer as refeições.
Notei no meu pai alguma tensão: a garfada de lasanha que ia levar à boca nessa altura caiu na mesa, manchando-a. Recostou-se sonoramente na cadeira e tossicou.
- Ela não tem sequer tempo para a sua filha?
- Pois, ela... ela costumava ligar frequentemente mas nós, entretanto, mudámos de telefone e... ela perdeu o contacto, foi isso.
- Isso não é desculpa, pai. Aposto que se a visse nem a reconhecia - afirmei, levantando-me da mesa.
O pai levantou-se também e foi para sala.
- Queres ajuda ou levantas a mesa sozinha?
Não respondi, incomodada. Não entendia porque a minha mãe não dava a cara. Não telefonava. Não me ligava nenhuma. A história dos "negócios" começava a dar-me motivos de desconfiança. Por muito pouco tempo que ela tivesse, duvido que não tivesse tempo para um telefonema de 5 minutos, para saber se eu e o pai estávamos bem. As lágrimas vieram-me aos olhos. Nunca tinha chorado uma única vez por ela.
Recostei-me no sofá, a ver televisão, e o meu pai sentou-se ao meu lado, mostrando-me uma fotografia da minha mãe.



- A tua mãe aqui já tinha uma barriga de dois meses. Estávamos a fazer um piquenique na praia.
- É tão linda! – Exclamei impressionada.
- Tal mãe, tal filha… Antes de nasceres, ela disse-me que queria que tu tivesses o mesmo nome que ela… Melody. Ela tem muitas saudades tuas, Mel…
- Se ela tivesse saudades minhas fazia pelo menos um telefonema… Ela não tem razões para nos esquecer assim… Ela abandonou-nos!
Com isto, subi para o meu quarto. Prometi a mim mesma não derramar nem mais uma lágrima pela minha mãe. Se ela quiser provar que tem saudades minhas, que venha visitar-me ou me telefone.





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