Capítulo 08

Nessa noite, sonhei com ela… com a minha mãe…



Estava meio acordada meio adormecida… Suores frios escorriam pela minha face proporcionando-me uma angústia tremenda. Não consigo descrever muito bem o sonho, apenas vi a minha mãe numa praia com um lindo vestido a flutuar com o vento. Os seus longos cabelos esvoaçavam e acompanhavam aquela brisa natural no seu movimento.



Apesar do sonho parecer belo havia algo que me punha assustada e nervosa, fazendo com que o sonho se transformasse num pesadelo. Os lençóis enrolavam-se em volta do meu corpo, pondo-me desesperada e cheia de calor. Estava ciente de que aquilo era um sonho e queria acordar rapidamente, mas algo me impedia, mantendo-me naquela visão bela, mas ao mesmo tempo assustadora.



Até que a vi olhar para trás, e com um grito sofredor, caiu no chão. Os seus gritos apunhalaram-me os ouvidos… e, numa imagem turva e desfocada, vi um berço. Essa parte do sonho passou bastante rápido, mas os gritos da minha mãe continuava a espalhar-se com toda a força pela minha mente.



Abri os olhos… desta vez, imóvel e ofegante… Olhei para o despertador e eram 06:24H. Levantei-me, com as pernas trémulas e fracas.



Dirigi-me a casa de banho e olhei-me ao espelho. A minha cara estava pálida e sentia-me fraca. Fui para a cozinha e preparei o meu pequeno-almoço, e o do pai, claro. Quase nem sabia o que estava a fazer, até que, como era de esperar, deixei cair alguns pratos, e, graças àquele incomodativo som, o meu pai acordou, abrindo a porta da cozinha, esfregando os olhos.
- Então Melody? Porque te levantaste tão cedo? – Perguntou ele.
- Não conseguia dormir mais… Desculpa se te acordei!
- Não faz mal filha… - Com isto, deu-me um beijo na testa. – Vai tomar um duche… eu preparo o pequeno-almoço.
Ao ouvir aquelas palavras, soube logo que tinha de tomar o pequeno-almoço na escola devido ao excelente desempenho do meu pai na cozinha, mas, naquele momento, aquilo pouco me preocupava. Fui tomar um duche para ver se me tranquilizava, pois estava muito tensa e nervosa.
Quando saí da banheira, fui ao espelho encarar um grande problema: as borbulhas, mas mesmo assim, olhando para elas, não me importavam nada.
Talvez fosse do meu nervosismo, ou então estava definitivamente louca, quando vi uma sombra atrás de mim no espelho.



Assustei-me, mas quando me virei para trás, já lá não estava. Lavei a cara e fui vestir-me.
As minhas pálpebras pesavam, estava completamente de rastos.
Não vou contar ao pai o sonho que eu tive, pelo menos por enquanto. Não quero que ele pense que eu estou demasiado preocupada pela mãe, porque senão vêm aquelas dolorosas perguntas de um pai preocupado com a filha, e eu odeio isso.
Cheguei à escola um pouco mais cedo do que o costume. Mal cheguei, dirigi-me ao bar onde comprei algo para comer, e quando me voltei para me sentar, vi o Dave.



- Bom dia! O que fazes aqui tão cedo? – Perguntei eu tentando ser simpática. Talvez aquela fosse a única oportunidade de falar com o Dave.
- Olá…
- Posso sentar-me aqui?
- Claro! Também vieste cedo… - Ele parecia-me muito menos tímido do que o dia anterior.
- É… dormi mal esta noite, portanto, vim mais cedo para a escola. E além disso, quando é o meu pai a cozinhar, tenho sempre de deixar dinheiro guardado para comer fora! – O Dave riu-se um pouco, mas nunca olhava para mim. – Então e tu? Costumas vir cedo?



- Sim… Às vezes dá-me jeito, quando quero ir ao cacifo…
- Porque não vais nos intervalos?
Quando fiz aquela pergunta, o Dave calou-se subitamente.
- Desculpa… Acho que já sei quais são as tuas razões. Mas Dave… não tenhas medo de encarar as pessoas! Mesmo que gozem contigo, ignora-as. Pensa que se calhar elas nem boas notas têm e estão cheias de ciúmes.
- Ora! Quem é que tem ciúmes de um totó?
- Tu não és totó, Dave! Porque dizes isso? Porque os outros também o dizem?
- Sim… Exactamente isso.
- Isso está errado! Nós somos o que somos, e não aquilo que dizem!
Pela primeira vez, o Dave levantou a cara, olhando para mim com um ligeiro sorriso.
- Obrigado, sei que estás a tentar ser simpática, mas vais ter de arranjar outra companhia. Todos os amigos que eu tive, afastaram-se de mim com vergonha de andar comigo! Não quero que tu passes essas vergonhas também.
- Dave! – Com isto, ele levantou-se e saiu do bar, indo em direcção ao seu “mundo”.
Isto é pior do que eu pensava, mas pelo menos, consegui saber um pouco mais sobre ele… Nesse momento, o Jake e os seus bem-dispostos amigos chegaram á escola, seguidos da brilhante limusina da Sarah… Já é previsível o que vai acontecer… outra vez…

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