Capítulo 68
Não sabia para onde o Jake me levava. Talvez para um sítio isolado, onde pudéssemos estar sozinhos num ambiente calmo. Por momentos pensei no Campo de Rugby, mas o caminho que levávamos era completamente diferente do que eu conhecia.
- Jake, para onde vamos? – Perguntei, um pouco atónita.
- Já vais ver.
Começámos a entrar numa rua que eu nem sabia que existia em Fort Sim. Uma rua ampla e de uma grande dimensão, com um conjunto de casas modernas que lhe davam um aspecto muito acolhedor. Era um ambiente completamente diferente do que me habituara a viver.
Quando finalmente parámos, fiquei perplexa com o que vi. Estava diante de uma espécie da mansão moderna. As paredes eram todas brancas, com janelas de grandes dimensões que possibilitavam a visualização do interior da casa.
E a minha avó muito provavelmente julgava que eu estava nas aulas.
O Jake levou a mão ao seu bolso e tirou um porta-chaves em forma de bola de Rugby, e, seleccionando a chave maior, abriu a porta daquela casa, e foi aí que percebi que ele me levara a sua casa.
Abriu a porta, e fez-me sinal para entrar primeiro. Entrei e consegui logo sentir o cheiro a novo inundar-me as narinas.
O Hall de entrada era grande, comparativamente com o meu. Tinha uma planta enorme encostada a um canto e, paralelamente a porta estava uma mesinha com um telefone e molduras com fotografias do Jake e do irmão quando eram pequenos. Perpendicular a esta, viam-se dois cadeirões vermelhos que pareciam novinhos em folha.
O Jake foi á cozinha beber água, e eu entretive-me a observar a sala, enquanto esperava por ele. Tal como o Hall de entrada, também a sala era moderna e bonita. Grande e ampla, tinha sofás pérola que pareciam igualmente novos, tal como o resto da habitação. Ao fundo da sala estava uma estante com livros e uma mesa grande com seis cadeiras que funcionava como sala de jantar, como na minha casa. Tinha tudo um ar acolhedor e simpático, e sentia-me em casa.
- A tua casa é muito bonita... é moderna! – Exclamei, ainda olhando em redor espantada.
O Jake riu-se, fitando a minha expressão agradavelmente surpreendida.
- O meu pai, como é pintor, gosta de ter a casa moderna e com as cores a combinarem... E a minha mãe agradece, claro! - Disse ele, com um sorriso caloroso. – Anda… vamos para o meu quarto.
- Não está ninguém aqui?
- Claro que não… O meu pai foi para uma exposição em Londres, e só volta amanhã, a minha mãe está a trabalhar e o meu irmão está na escola. Por que achas que eu te levei aqui? – Lançou-me um olhar um pouco irónico, que me fez varrer a sala com os olhos, tal era a vergonha. – Anda.
Subimos umas escadas de pedra macia com corrimão de ferro brilhante. As escadas iam desembocar a outro Hall. O mesmo tinha quatro portas. Provavelmente com acesso aos quartos.
O Jake encaminhou-me ao seu quarto, e eu fiquei ainda mais surpreendida. Aquela divisão distinguia-se perfeitamente do resto da residência. Este era constituído por cores azuladas e negras. O chão era de madeira, com um tapete um pouco amarrotado ao lado da cama. Tinha uma cama que dava a ideia de ter luzes em néon na sua base.
A parede estava praticamente coberta por prateleiras, cheias de taças e troféus, bandeiras a representarem Os Lamas, a sua equipa.
Havia outra prateleira com um capacete de Rugby um pouco mais pequeno que a sua cabeça. Notando a minha expressão interessada para esse objectos, o Jake explicou-me:
- Esse foi o capacete que usei no meu primeiro jogo de Rugby. Tinha 10 anos. – Soltou uma gargalhada. – Quando tomei posse da bola, em vez de correr, esperei aplausos do público, mas só conseguia ver caras preocupadas, pois, nesse mesmo instante, metade dos jogadores da equipa adversária atiraram-se para cima de mim, a fim de me tirar a bola, com sucesso.
Soltei uma gargalhada um pouco mais intensa.
- Não acredito… e agora és capitão da equipa…
- Pois sou… - Confirmou ele, com uma expressão triunfante.
O Jake sentou-se na cama, convidando-me para sentar também. Sentia-me à vontade naquela casa, como se fosse minha. Não me sentia como se fosse na casa de um estranho, onde eu tivesse vergonha de me sentar onde quer que fosse, e permanece-se quieta, de pé, o tempo todo.
Sentei-me.
- Espero que não te importes com a desarrumação.
- Não… podes crer que o meu quarto está bem pior… estava…
- Tu não fazes mesmo tenções de voltar para tua casa pois não?
- Por enquanto não, Jake. Estou bem onde estou agora. A minha avó trata-me muito bem e eu sinto-me bem ao seu lado.
- Nem acredito na quantidade de coisas que passaste na semana passada. Nem me passava pela cabeça.
- Sim… e confesso que ainda estou surpreendida de teres acreditado em mim…
- Eu sempre acreditarei em ti… sempre!
E com isto, deu-me um caloroso beijo.
- As coisas também não mudaram muito na tua ausência. – Continuou - A Sarah continua a mesma ridícula de sempre, quase a implorar que os jornalistas lhe tirem fotografias, e a Cassandra… bem… essa até mudou um pouco.
- Mudou? Ah… já sei. Fez uma permanente ao cabelo, foi? – Perguntei, friamente.
- Não! Ela tem estado abalada, Melody. Abalada com qualquer coisa. Até nas aulas tem estado um pouco lunática. Acho que ela tem saudades tuas…
Soltei um riso de escárnio ao ouvir a palavra “saudade”.
- Jake… eu sei que me queres reconfortar, mas todos nós sabemos que a Cassandra nunca vai mudar. Vai ser sempre a mesma obcecada pela Sarah e pela popularidade.
- Tu não percebes? Ela já não anda com a Sarah! Às vezes fala com ela, e chegam a tirar fotografias juntas, mas toda a gente percebe que ela já não está tão “fanática” pela Sarah. Eu acho que ela mudou.
- Isso já não me importa… não quero saber. A Cassie… Cassandra, escolheu o seu caminho… e eu… escolhi o meu.