Capítulo 32
Com os restos da lasanha e dos bifes que o meu pai fritou ao almoço, fiz o jantar. Não era muita comida, mas haviam crepes com gelado no frigorífico, e o que eu pretendia era satisfazer a minha fome com a sobremesa. O meu pai estava com a cabeça e os olhos postos no ecrã da televisão, onde estavam a exibir um jogo de futebol, pelo que me aproveitei da situação e coloquei na travessa um bocado de lasanha que não me apetecia comer. O meu pai absorvia-se tanto nos jogos que nem reparava naquilo que eu fazia, por mais perto que estivesse. Quando era pequena, aproveitava estes momentos de distracção para pôr no prato da salada os pepinos que não conseguia engolir. O meu pai pensava que eu os comia e tinha começado a gostar, pelo que me servia mais. E eu voltava a colocá-los no prato da salada, e assim sucessivamente. Cheguei a uma altura que desisti da façanha, mas hoje não pude resistir. Sentia-me enjoada, e, a não ser os crepes que me aguardavam no frigorífico, nada mais conseguiria levar a boca. Subitamente, lembrei-me do telefonema, e, escolhendo bem as palavras para que o meu pai não se recusasse a responder como ontem, perguntei:
- Pai… Ontem eu fiquei preocupada contigo. Ficaste com uma cara estranha a seguir àquele telefonema. Quem é que te telefonou?
Durante breves segundos, ignorou-me por completo. Fingiu concentrar-se no jogo, mas apercebeu-se que eu não ia desistir enquanto não soubesse a verdade e respondeu, contrariado:
- Era a tua avó… A mãe da tua mãe, caso te estejas a perguntar.
- E o que é que ela queria? - Exclamei, entusiasmada. Podiam ser notícias da mãe que eu anseio tanto receber.
- Ela… Bem, ela queria saber se estava tudo bem por aqui. Há muito tempo que não telefonava para cá... E ontem lembrou-se.
- E porque é que não falei com a avó? Ela não te pediu para passar o telefone nem nada? Tenho saudades dela! E ela falou da mãe? Tem notícias dela? - Espingardava eu, animada.
- Melody, ouve bem… a avó estava com pressa - Indagou o pai, visivelmente confuso e irritado com tantas perguntas - E não, ela não sabe nada da mãe... A mãe não tem tempo para mandar notícias. Ela está em trabalho no estrangeiro, caso contrário estava aqui em casa connosco.
Contraía-me com aquela resposta. Estava mesmo convencida que era desta que a minha mãe dava notícias, lembrava-se que tinha um marido e uma filha com 18 anos, que nunca a vira na vida. Já era de esperar que até me casar nunca receberia notícias dela.
- Como se fosse possível a mãe lembrar-se de mim - Murmurei, mais chateada do que propriamente triste. – Mesmo estando a trabalhar ela tem sempre algum tempo para nos mandar uma carta… um telefonema… uma mensagem… seja o que for!
Levei os crepes com gelado para a sala, para descongelarem um pouco enquanto comia dolorosamente os meus bifes, e fiquei a ver televisão com o meu pai. Mas os comentários do jogo de futebol estavam para segundo plano, pois eu só conseguia pensar na mãe. Outra vez. Por mais que tentasse esquecer esse assunto, ele invadia-me sempre a minha mente. A desilusão que sentia cegava-me e, apesar de já estar habituada à sua ausência, não deixava de lacrimejar. Tinha prometido nunca mais chorar por ela, mas isso não chegava para secar todas as lágrimas que se acumulavam nos meus olhos, quando pensava na minha mãe… lágrimas essas que eu tento a todo o custo esconder do meu pai.
Reparei que o meu pai estava bastante concentrado no jogo de Futebol, revoltando-se sonoramente com as faltas provavelmente injustas dos árbitros, e nem olhava para o seu prato. Eu, não perdendo o hábito de infância e estando mesmo sem fome, peguei em dois pedaços de bifes e pu-los no prato do meu pai, que, quando baixou a cabeça para tirar mais um pouco de lasanha, estranhou dizendo:
- De onde é que vieram estes bifes?
- Não sei… provavelmente já os tinhas aí.
- Caramba, filha. Parece que estás a querer engordar um porco… toma lá os bifes. Tu é que estás a crescer, precisas de te alimentar.
Porém, parece que há coisas que nunca mudam com o passar dos anos…
Pus os pratos no lava-loiça, sem paciência para os lavar, e fui para o meu quarto. Comecei a ler um livro que tinha requisitado na Biblioteca já há duas semanas, e que ainda não tinha lido nem uma página devido à minha “grande vontade” nestes últimos dias.
Pousei o livro no meu colo e pus-me a olhar para o tecto pensando em diferentes coisas. Mas o que se destacava mais no meio daqueles pensamentos todos, para além da minha mãe, eram as cartas que eu tenho recebido. Comecei a tentar descobrir qual é o rapaz, ou os rapazes, que me tenho aproximado mais nestes últimos dias. Mas os únicos que me vieram à cabeça foram o Dave e o Jake. Mas não… não podia ser. O Jake está apaixonado por uma rapariga qualquer da escola, que eu nem sei o nome, e o Dave… bem, não querendo subestimar os seus sentimentos, eu nunca imaginei o Dave a apaixonar-se… e logo por mim, que nunca mais tenho falado com ele.
Dei voltas à cabeça, chegando até a pensar em paixonetas que tive no quinto e no sexto ano… mas nessa altura só andava com raparigas, até porque o meu pai achava melhor assim, naquela altura.
Recostei a minha cabeça na almofada e descontraí o meu corpo. Não tinha sono nenhum, nem chegando a pestanejar, como se tivesse bebido dois litros de café.
Para não variar, e para me pôr cada vez mais louca, dei por mim a pensar naquele “homem misterioso” que vi no parque e da estranha sensação de que já o tinha visto. Sim… num sonho. Mas nem tenho a certeza se é ele. No sonho, vi um homem de capuz a gritar sofregamente a olhar para o céu como se a sua vida já não fizesse sentido. Pergunto-me se será o mesmo que vi no parque.
Estou cada vez mais atónita com estes acontecimentos todos. Desde o primeiro sonho que tive, com a minha mãe numa praia ao pôr-do-sol e daquele berço, que a minha vida mudou por completo. Tenho visto coisas que nem sequer sabia que existiam, um homem completamente assustador, os sons… os mais pequeníssimos sons que têm zumbido nos meus ouvidos, vozes, gargalhadas de crianças e aquela Igreja que me faz remoer a cabeça deixando-me completamente fora de mim e sem vontade de fazer nada. Agora tenho uma questão: Tudo isto que tenho sentido nestas últimas semanas, poderá estar associado a alguma coisa? Todas as visões, sons e vozes poderão estar ligados entre si?
Sinto que a resposta a estas infinitas perguntas está cada vez mais fora do meu alcance. Eu tenho de assentar os pés na terra. Tenho de me concentrar nos meus estudos, nas minhas amizades cada vez mais difíceis de fazer… tenho de me concentrar na minha vida. Mas…. Eu não o consigo fazer sem saber o que se está a passar comigo. Tenho de consultar alguém que me possa ajudar… alguém com quem possa desabafar e deitar cá para fora tudo o que me tem agoniado e atordoado… tudo e que me tem deixado sem noção de quem sou e do que realmente faço aqui.
- Pai… Ontem eu fiquei preocupada contigo. Ficaste com uma cara estranha a seguir àquele telefonema. Quem é que te telefonou?
Durante breves segundos, ignorou-me por completo. Fingiu concentrar-se no jogo, mas apercebeu-se que eu não ia desistir enquanto não soubesse a verdade e respondeu, contrariado:
- Era a tua avó… A mãe da tua mãe, caso te estejas a perguntar.
- E o que é que ela queria? - Exclamei, entusiasmada. Podiam ser notícias da mãe que eu anseio tanto receber.
- Ela… Bem, ela queria saber se estava tudo bem por aqui. Há muito tempo que não telefonava para cá... E ontem lembrou-se.
- E porque é que não falei com a avó? Ela não te pediu para passar o telefone nem nada? Tenho saudades dela! E ela falou da mãe? Tem notícias dela? - Espingardava eu, animada.
- Melody, ouve bem… a avó estava com pressa - Indagou o pai, visivelmente confuso e irritado com tantas perguntas - E não, ela não sabe nada da mãe... A mãe não tem tempo para mandar notícias. Ela está em trabalho no estrangeiro, caso contrário estava aqui em casa connosco.
Contraía-me com aquela resposta. Estava mesmo convencida que era desta que a minha mãe dava notícias, lembrava-se que tinha um marido e uma filha com 18 anos, que nunca a vira na vida. Já era de esperar que até me casar nunca receberia notícias dela.
- Como se fosse possível a mãe lembrar-se de mim - Murmurei, mais chateada do que propriamente triste. – Mesmo estando a trabalhar ela tem sempre algum tempo para nos mandar uma carta… um telefonema… uma mensagem… seja o que for!
Levei os crepes com gelado para a sala, para descongelarem um pouco enquanto comia dolorosamente os meus bifes, e fiquei a ver televisão com o meu pai. Mas os comentários do jogo de futebol estavam para segundo plano, pois eu só conseguia pensar na mãe. Outra vez. Por mais que tentasse esquecer esse assunto, ele invadia-me sempre a minha mente. A desilusão que sentia cegava-me e, apesar de já estar habituada à sua ausência, não deixava de lacrimejar. Tinha prometido nunca mais chorar por ela, mas isso não chegava para secar todas as lágrimas que se acumulavam nos meus olhos, quando pensava na minha mãe… lágrimas essas que eu tento a todo o custo esconder do meu pai.
Reparei que o meu pai estava bastante concentrado no jogo de Futebol, revoltando-se sonoramente com as faltas provavelmente injustas dos árbitros, e nem olhava para o seu prato. Eu, não perdendo o hábito de infância e estando mesmo sem fome, peguei em dois pedaços de bifes e pu-los no prato do meu pai, que, quando baixou a cabeça para tirar mais um pouco de lasanha, estranhou dizendo:
- De onde é que vieram estes bifes?
- Não sei… provavelmente já os tinhas aí.
- Caramba, filha. Parece que estás a querer engordar um porco… toma lá os bifes. Tu é que estás a crescer, precisas de te alimentar.
Porém, parece que há coisas que nunca mudam com o passar dos anos…
Pus os pratos no lava-loiça, sem paciência para os lavar, e fui para o meu quarto. Comecei a ler um livro que tinha requisitado na Biblioteca já há duas semanas, e que ainda não tinha lido nem uma página devido à minha “grande vontade” nestes últimos dias.
Pousei o livro no meu colo e pus-me a olhar para o tecto pensando em diferentes coisas. Mas o que se destacava mais no meio daqueles pensamentos todos, para além da minha mãe, eram as cartas que eu tenho recebido. Comecei a tentar descobrir qual é o rapaz, ou os rapazes, que me tenho aproximado mais nestes últimos dias. Mas os únicos que me vieram à cabeça foram o Dave e o Jake. Mas não… não podia ser. O Jake está apaixonado por uma rapariga qualquer da escola, que eu nem sei o nome, e o Dave… bem, não querendo subestimar os seus sentimentos, eu nunca imaginei o Dave a apaixonar-se… e logo por mim, que nunca mais tenho falado com ele.
Dei voltas à cabeça, chegando até a pensar em paixonetas que tive no quinto e no sexto ano… mas nessa altura só andava com raparigas, até porque o meu pai achava melhor assim, naquela altura.
Recostei a minha cabeça na almofada e descontraí o meu corpo. Não tinha sono nenhum, nem chegando a pestanejar, como se tivesse bebido dois litros de café.
Para não variar, e para me pôr cada vez mais louca, dei por mim a pensar naquele “homem misterioso” que vi no parque e da estranha sensação de que já o tinha visto. Sim… num sonho. Mas nem tenho a certeza se é ele. No sonho, vi um homem de capuz a gritar sofregamente a olhar para o céu como se a sua vida já não fizesse sentido. Pergunto-me se será o mesmo que vi no parque.
Estou cada vez mais atónita com estes acontecimentos todos. Desde o primeiro sonho que tive, com a minha mãe numa praia ao pôr-do-sol e daquele berço, que a minha vida mudou por completo. Tenho visto coisas que nem sequer sabia que existiam, um homem completamente assustador, os sons… os mais pequeníssimos sons que têm zumbido nos meus ouvidos, vozes, gargalhadas de crianças e aquela Igreja que me faz remoer a cabeça deixando-me completamente fora de mim e sem vontade de fazer nada. Agora tenho uma questão: Tudo isto que tenho sentido nestas últimas semanas, poderá estar associado a alguma coisa? Todas as visões, sons e vozes poderão estar ligados entre si?
Sinto que a resposta a estas infinitas perguntas está cada vez mais fora do meu alcance. Eu tenho de assentar os pés na terra. Tenho de me concentrar nos meus estudos, nas minhas amizades cada vez mais difíceis de fazer… tenho de me concentrar na minha vida. Mas…. Eu não o consigo fazer sem saber o que se está a passar comigo. Tenho de consultar alguém que me possa ajudar… alguém com quem possa desabafar e deitar cá para fora tudo o que me tem agoniado e atordoado… tudo e que me tem deixado sem noção de quem sou e do que realmente faço aqui.
COitada!
A vida dela anda mesmo numa confuão!
Quero ver como é que isto se vai desenrolar...
Força nisso!
Gostei muito mesmo! Espero que ele ao descubrir as verdades não fique ainda mas " desapontada" e que não sofra ainda mais!
Espero pelos proximos! ;)
Gostei muito!
Ai quando a Mel descobrir que a mãe morreu...
Vai ser complicado...
Opá meldoy!!!!!! Desabafa com o dave! Assim ficam tres pessoas felizes: tu, ele e eu!!!!
Mas tá a ficar mesmo mal! Torço por ti mel! (e por falar em comida: tava enjoada mas crepes com gelado com certeza desenjoa nao é? Juntamente com lasanha (hummmmm) e bifes fritos... LOL sempre que leio os teus capítulos fico com fome! (*sai e vai buscar bolachas à dispensa*) Ai, ai...
Adorei!!!!!!!!!!
Deg deg