Capítulo 33



Foi o meu pai quem me acordou, alegando que o despertador tinha ficado sem pilhas e se esquecera por completo de as comprar. Abriu os estores apressadamente e foi tomar banho, pois estava, uma vez mais, atrasado. Pela janela irradiou a luz forte do sol e eu, calmamente, levantei-me e fui-me lavar. Tomei um duche rápido para que o meu pai não ficasse sem água quente e fui vestir-me. Pela primeira vez neste ano lectivo, acordei com bom humor. Pelo menos até ir tomar o pequeno-almoço.



Quando cheguei à cozinha, o meu pai estava a tomar o seu café da manhã habitual. Tinha o jornal na mão e a televisão ligada, mas não parecia prestar atenção a nenhuma aos dois. Dei-lhe os bons-dias e fui buscar uma caneca para o leite e um prato para por as torradas. Quando ia sentar-me à mesa, vi alguém sentado no meu lugar. Era o homem de capuz que eu vira no parque. Aparentava a mesma cara de poucos amigos como o vira na primeira vez, no parque. A sua boca estava forçadamente comprimida e formava um ligeiro arco que denotava desagrado. Aqueles olhos verde-água olhavam-me severamente e o sinal que tinha por cima da boca contribuía em peso para tornar a sua face ainda mais aterrorizadora.





Estava vestido com a mesma túnica castanha áspera, com um capuz a tapar parte do cabelo preto sedoso. Para completar o cenário assustador, tinha a pele tão lívida que era quase possível ver através dela. Senti um calafrio percorrer-me as entranhas. Engoli em seco e tentei respirar fundo, sem sucesso. O meu corpo estava rígido e tenso, pelo que as minhas mãos se abriram sem eu ter intenção de o fazer. Deixei cair a caneca e o prato.



O estardalhaço que a loiça provocou ao cair fez-me sacudir a cabeça e piscar os olhos. Quando os abri, o homem já lá não estava.



Estava a respirar com dificuldade, a blusa que tinha usado estava colada as costas e a testa suada. Não conseguia mexer as mãos e tinha os olhos a arderem-me intensamente. Fechei-os por momentos, e passei as mãos pela cabeça, nervosa. Estava a tentar debater-me contra os arrepios que estava a sentir, mas a luta não estava fácil.
-Caramba, Melody, será que não tens cuidado com o que fazes?
- Desculpa, pai, desculpa! Eu limpo isto tudo, não te preocupes! - Exclamei, sem saber mais o que dizer para me desculpar.



O meu pai levantou-se e foi buscar a pasta castanha com a papelada do trabalho. Deu-me um beijo rápido, provavelmente para quebrar a tensão que entretanto se estabelecera entre nós, e saiu. Mal a porta se fechou, deixei cair sonoramente a pá e sentei-me no chão, afastando os bocados de loiça partida para não me magoar. Respirei fundo e disse repetidamente para mim mesma "está tudo bem". Mas não estava nada bem, e não havia ninguém que soubesse disso melhor do que eu.
Algumas lágrimas escorreram-me pela face, fazendo os meus olhos arder intensamente. A gola da minha camisola começou a humedecer-se lentamente e o meu cabelo colava-se à cara. Entrei, por momentos, num desespero total que só me apetecia desaparecer deste mundo.
E nesse momento, alguém bateu à porta. Sequei rapidamente as minhas lágrimas, levantando-me repentinamente e abrindo a porta num toque suave. Era o meu pai.
- Agora esqueci-me das chaves… só comigo. – E ao dizer isso, deteve-se sobre a mesa da cozinha vasculhando por baixo do Jornal as chaves esquecidas. – Ah, aqui estão elas… - E de seguida olhou para mim ficando com uma cara intrigada vendo os meus olhos vermelhos e húmidos. – O que se passa? Estiveste a chorar?
Passei as mãos levemente pela cara, para secar mais um pouco os olhos, dizendo:
- Eu…? Não… não. Estive a descascar cebola! – Disse eu com a voz ligeiramente trémula.
- “A descascar cebola”? … A esta hora da manhã?
- Sim… é para deixar o almoço temperado para quando voltar da escola ser mais rápido!
- E onde está a cebola? – Disse o meu pai inclinando-se para a bancada visivelmente limpa.
- Já a pus no frigorífico… huh, não estavas atrasado para o trabalho?
- Estava e estou! Tchau Mel…
E com isto bateu com a porta, fazendo-me suspirar de alívio. Olhei para o relógio que se achava pendurado na parede, reparando que estava drasticamente atrasada.
Percorri o longo caminho até à Escola, correndo com todas as minhas forças. Ouvi os sinos a soar da Torre mais alta da Igreja que se erguia no meio das árvores que a cercavam.



Cheguei à escola, nitidamente ofegante, e corri até à sala de aula, onde muito provavelmente ia adormecer, pois era a aula de História e, com a minha “boa disposição” que se fez sentir nestes últimos dias, digamos que não recuso nenhuma sesta.
Bati à porta, num toque hesitante, e abri.
- Posso entrar, Professora?
Por sua vez, a Professora fez uma cara de poucos amigos dizendo:
- Entre lá… Vai-me obrigar a desmarcar a sua falta!



- Obrigada… - Disse num tom de voz enfraquecido.
Tirei o enorme livro de história juntamente com as minhas canetas da minha pasta e suspirei.
Senti que o Jake olhava para mim fixamente com uma cara preocupada, sussurrando:
- Melody! O que se passou? Estás bem?



Muito provavelmente notava-se a minha cara pálida e humedecida pelas lágrimas que me brotaram dos olhos. Eu apenas murmurei um “Nada” e tentei ficar atenta à aula, embora as minhas preocupações não mo permitissem.
No fim de escrever alguns apontamentos no quadro a professora virou-se para a turma e disse:
- Abram os vossos livros na página 54!



Arrastei tremulamente o meu livro para minha frente e avancei para a página dita pela professora. “Monumentos Antigos” era o tema da matéria que íamos abordar naquela aula.
- Bom… - Avançou a professora. – Decidi avançar um pouco mais à frente na matéria, pois, esta parte do programa é muito essencial para o que vamos estudar a seguir! Avancem para a página 55… iremos começar com o monumento mais falado no século XVIII: A Igreja dos Três Bispos.
Avancei para essa página e a minha boca abriu-se de espanto e os meus olhos arregalaram-se de medo. Um arrepio percorreu-me as costas e o meu peito apertou-se de tal maneira que me impediu de respirar.

5 Response to "Capítulo 33"

  • João Says:

    Muito Bom mesmo!
    Tenho muita pena da Mel...
    Está a sofrer bastante...
    Continua esta maravilhosa história! =)


  • mmoedinhas Says:

    Eu só nao penso mas sei! O gajo misterioso é da família da mel!!!!!!! Só pode, so pode... E a igreja dos tres bispos é a tal que ela ve cheia de flores e tal e aquele bispo é um dos tres bispos e! Ai meu deus que emocionante! ahahahaha mas se calhar já descobri tudo... Não sei

    Continua, se nao morro de duvidas!!

    Deg deg


  • Tudy Says:

    Ai mmoedinhas ninguém pode ler os teus comments que fica logo a saber a história! hahaha Acertaste em parte dos factos, mas outra parte estás redondamente enganada hihihi. Mas são bons palpites sim senhora!

    Obrigado aos dois! xD


  • Unknown Says:

    Sim, concordo em todos os factos que a mmoedinhas disse! E exacatamente o que penso lol!
    Parabens e continua!!! SE FAZ FAVOR!


  • Mr.Lis Says:

    Gostei muito!
    Que coencidencia a professora falou logo da aquela igreja xD
    Gostei muito parabéns!


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