Capítulo 39

A Professora, mudando a sua expressão contente para uma expressão preocupada e intrigada, mandando-me entrar e sentar-me em frente à sua secretária.



Olhei em redor, e a Sala dos Professores encontrava-se completamente vazia, encontrando-se lá apenas eu e a Professora Bathilda. A Sala era ampla, espaçosa e muito bem decorada. A pintura da parede era muito diferente das salas de aulas, havia aquecedores em todos os cantos, ligados, proporcionando uma atmosfera morna e agradável. Apenas se faziam ouvir o rádio, que dava, num tom reduzido, músicas dos anos 60, e a máquina de café, a lançar um barulho irritante enquanto deitava café quente para um pequeno copo de plástico.





- Sente-se! – Pediu a Professora.
Eu sentei-me, ainda a olhar em redor, apreciando, agora, os imensos quadros pendurados na parede com tinta anti-humidade. Quando finalmente olhei para a minha professora, que ingeria café da sua caneca, e quando deu o último gole perguntou-me num tom preocupado:
- Então o que se passa, Melody?



Silenciei-me durante alguns instantes, sentindo o arrependimento de ter ido para aquela sala a percorrer-me as entranhas. Engoli seco e prossegui.
- Professora, já faz algum tempo que eu não me tenho sentido lá muito bem… psicologicamente. Foi por isso que vim ter consigo! Provavelmente devo estar maluca, mas….
- Um Psicólogo não é para pessoas malucas, Melody. Uma rapariga tão inteligente como tu devia saber isso! – Disse a Professora com um leve sorriso na cara. – Um Psicólogo… - Prosseguiu ela sabiamente. – … é como se fosse um amigo que nos compreende mais do que ninguém! É um amigo com quem nós podemos expressar a nossa dor, o nosso sofrimento… aquilo que nos preocupa… Mas… continua!
- Professora… eu tenho-me sentido extremamente triste nestes últimos dias. Sinto-me deprimida e parece que o chão se desfaz por baixo dos meus pés. Sinto um sufoco e tomar conta de mim que eu nem consigo explicar… E agora… fiquei ainda pior…



- O que se passa? – Perguntou a Professora com as sobrancelhas arqueadas.
- Lembra-se da Cassandra?
- Oh… claro que me lembro. Uma jóia de rapariga! Fazia a turma toda rir mesmo quando recebia um teste surpresa do professor de Matemática. Ficou conhecida na Escola pela sua campanha a favor do ambiente, que fez com que as ruas ficassem muito mais limpas!
- Sim… essa mesmo. No início do ano ela mudou radicalmente! De extrovertida passou para uma rapariga tímida e reservada… Foi horrível vê-la assim!
- Sim, eu vi-a há umas semanas no corredor quando nos cruzámos… quase nem a reconhecia se não fossem aqueles seus olhos verdes!



- Pois… aconteceu o mesmo comigo. Mas agora… ela mudou ainda mais! Sabe… ela agora começou a andar com a Sarah Mello… A sua personalidade deu uma volta de 360 graus que me atrevo a dizer que perdi uma grande amiga! Ela agora, como anda com a Sarah, acha-se o centro das atenções e super popular.
- Está a falar a sério, Melody?
- Nunca falei tão a sério na minha vida, professora! – Exclamei com uma voz trémula e nervosa.
A Professora levantou-se e foi buscar uma água ao Bar da Sala de Professores, do qual a Funcionária se ausentava, e disse:
- Infelizmente, Melody, tu pareces ter sido a minha única aluna que não mudou! Infelizmente, todos os teus colegas mudaram nestes últimos meses!
Franzi o sobrolho de tal surpreendimento que me invadiu os pensamentos. Empoleirei-me sobre a secretária da Professora e preparei-me para a ouvir.
- Lembra-se do James?
- Como é que não me podia lembrar?! – Indaguei com um ligeiro sorriso.



- Sim… um dos melhores alunos da Escola, pais de respeito, excelente comportamento e ambições que nunca nenhum aluno teve! Este ano… todas as suas ambições foram por água abaixo quando ele começou a andar com más companhias. Digamos que ele agora, invés de ser o melhor aluno da turma, é o pior aluno da turma, chegando até a ausentar-se das aulas durante vários dias. Há pessoas que o vêem e dizem que ele anda a fumar, mas até agora ainda ninguém tem a certeza, pois, recusam-se a acreditar que um rapaz tão atinado esteja agora a fumar.



- A Professora não pode estar a falar a sério… - Disse com os olhos visivelmente arregalados.
- Estou sim, Melody. E ele não foi o único. Lembra-se da Edna?
- Vagamente… - Respondi.



- Notas razoáveis, comportamento bom, muito terra a terra, menina de poucas palavras e um óptimo jeito para desenho. – Enumerou infinitamente a Professora enquanto carregava inúmeras vezes no botão da sua caneta. – Agora, ficou muito mais calada, o seu comportamento tem vindo a piorar e as notas também. E quanto ao desenho… bem, ela continua a desenhar, mas nas paredes das propriedades privadas com a sua nova amiga, conhecida como a “rufia” cá da Escola.



Baixei a cabeça, pensando como as pessoas podem mudar tão depressa que nem nos apercebemos.

- Bem, é melhor ir andando... - Disse já com uma minúscula lágrima a escorregar-me pela face.
A Professora levantou-se, pousando a sua caneca de café, agora vazia, na secretária, e dirigiu-se a mim.
- Eu sinto-me tão mal professora… - Disse tristemente. – Sinto-me excluída… sinto que todos os meus colegas avançaram e eu fiquei para trás.
- Está enganada, Melody! Os seus colegas é que ficaram para trás, pois, estragaram as suas vidas graças às influências. Foi por isso que o seu pai a transferiu de turma!
- Você sabia?
- Sim! Ele tinha medo que se perdesse também… ele gosta muito de si e só quer o melhor para a sua filha. Vá em frente e ultrapasse tudo e todos que se atravessem à sua frente! Siga o futuro que a aguarda de braços abertos!
E com isto, deu-me um carinhoso abraço.



Nesse momento, tocou para o intervalo, pelo que a professora se apressou um pouco para ir a uma sala de aula dar um suposto recado.
Quando me preparava para sair da sala, virei-me para trás e fiz uma última pergunta à professora:
- Professora…
- Sim, Melody?



- Nestes momentos difíceis da nossa vida é normal termos alucinações?
- Que eu saiba, não… Porquê?
- Nada, nada. Só por curiosidade.

3 Response to "Capítulo 39"

Postar um comentário