Capítulo 35

O dia foi passando calmamente, embora estivesse extremamente distante da realidade e iludida pelos meus pensamentos que se centravam… bem, no que já se sabe. Claro que o Jake e, por vezes, quando não estava a arrumar o cacifo da Sarah, a Cassie me iam despertando com um estalar de dedos ou um abanão de ombros, mas só acordava nesse momento, pois rapidamente voltava a ficar completamente ausente.



Reparei que a atitude da Sarah mudou um pouco… para pior. Sempre que passava vaidosamente pelo corredor olhava-me de lado com aqueles seus óculos de Sol de cores extravagantes e de marca. Talvez fosse porque, finalmente, meteu na cabeça que apenas transporta aquele longo e sedoso cabelo loiro que o Jake não queria namorar com ela.



A Cassie continua irritantemente obcecada pela Sarah, tendo o nível dessa obsessão crescendo cada vez mais nestes últimos dias. Cada vez que estou com ela só me lembro da velha Cassie que me animava sempre que me sentia triste e me apoiava em cada decisão que tomava e não na Cassie de agora que, do pouco tempo que está comigo, só fala da Sarah.



O Dave anda cada vez mais tímido e desvia sempre caminho assim que vê a Sarah, ou o rasto do seu intenso perfume. Sempre que olha para mim desvia o olhar, chegando também, por vezes, a desviar o caminho. O nervosismo dele sempre que olha para mim cresceu tanto que parece que lhe fiz algum mal.



No fim das aulas, o Jake acompanhou-me até à saída, e enquanto pegava no seu capacete e tirava o descanso da sua mota, perguntou-me:
- Queres que te leve a casa?
- Não, não… sempre tive medo de motas! – Disse eu no meio de leves risos.
- Então está bem… vejo-te mais tarde! – Exclamou ele com o seu olhar sedutor que me punha incrivelmente nervosa.
Dei outro dos meus suspiros, que ultimamente me foram muito essenciais para não cair no cúmulo da loucura, e fui para casa.
Quando cheguei, apressei-me a cortar as supostas cebolas que tinha falado ao meu pai de manhã para ele não suspeitar quando chegasse a casa. Preparei uma salada e juntei um pouco de atum, embora não gostasse rigorosamente nada de atum, foi a única coisa que me ocorreu.



Quando finalmente o meu pai chegou a casa, já eu tinha posto a mesa com dois pratos e uma travessa de salada de atum no meio, cercada de copos e talheres.
- Parece que alguém chegou mais cedo a casa… - Disse o pai enquanto pousava o seu casaco no cabide da porta e pousava as chaves no aparador do Hall de entrada.
Entrou rapidamente na cozinha e sentou-se. Eu sentei-me também e fiquei a observá-lo.
- Pai… posso perguntar-te uma coisa?
- Claro… o que foi? – Respondeu ele enquanto tirava para o seu prato um bom bocado de salada.
- Huh… Hoje… na aula de História, a Professora falou-nos de alguns monumentos antigos…



- Bem… eu não sou, nem nunca fui, muito bom a História mas… o que te preocupa? Estás com uma cara. – Retorquiu ele, agora a levar a primeira garfada á boca.
- A Professora falou duma Igreja… A Igreja dos Três Bispos. – Ao dizer estas palavras, a garfada com destino à boca do meu pai foi logo pousada no prato. – Tu, por acaso, conheces essa Igreja?
Um breve silêncio instalou-se na cozinha, fazendo-se apenas ouvi o relógio de parede da cozinha com o ponteiro dos segundos a andar incansavelmente. A cara do meu pai empalideceu e os seus olhos começaram a brilhar lentamente.
- Como é que eu não me podia lembrar… Foi onde eu e a tua mãe nos casámos.
Ao ouvir o que o meu pai disse tremulamente, debrucei-me sobre a mesa e disse entusiasmadamente:
- Mas a Professora disse que já não faziam missas nem celebrações naquela Igreja há bastante tempo…
- Sim… logo a seguir ao casamento encerraram a Igreja… Já se passaram 19 anos, Melody… 19 anos… - Repetiu o meu pai a olhar lunaticamente para um certo ponto da cozinha.
Senti-me mal em perguntar aquilo ao meu pai, estando ciente de que ele, mais do que ninguém, sentia saudades da Mãe e que também a queria ver novamente.
- Desculpa, Pai… estava só curiosa.
- Não faz mal, filha! Não faz mal… - Disse levando, finalmente, a primeira garfada de salada à boca.
No fim de almoçar, recostei-me no sofá da sala a ver Televisão tentando-me abstrair daquilo-que-já-se-sabe.



Lembrei-me, por mera coincidência, de ligar o canal de Reality Shows de Hollywood e muito mais, e mais uma vez, o Reality Show que estava a decorrer fez-me levantar subitamente do sofá e aumentar o volume, com a boca aberta pelo espanto e soltando gritos para chamar o meu pai, que estava a lavar a loiça, desajeitadamente, como de costume. Quando chegou à Sala, nem foram necessárias apresentações, pois ele reconheceu rapidamente a rapariga que estava na televisão a ser entrevistada.
- Não posso acreditar! É a…
- Cala-te! – Exclamei eu furiosa tentando ouvir o que… a pessoa que reconheci imediatamente dizia.



4 Response to "Capítulo 35"

  • Mr.Lis Says:

    Adorei!!

    A Melody hoje estava mais bem disposta eu notei =D

    Gostei muito =)


  • João Says:

    Óptimo!!!!!
    ADOREI!
    Tenho a certeza de que a entrevistada é a Sarah...
    Malvada...-.-

    Espero que não diga nada de mau da Mel...


  • Diogo Says:

    Adorei muito! Este capitulo transmitiu-me uma energia super boa! senti-me super bem ao ler!
    ESPERO QUE CONTINUES PORQUE SENÃO FICAREI TRISTE! LOL mas acho que não tão como a Melody!


  • mmoedinhas Says:

    Deixaste-me sem saber para onde me virar... Não sei mesmo quem tá na televisão! Tou sem palavras... Finalmente derrostaste-me...
    Mas mesmo assim adorei! Espero que postes rapido para assim descobrir mais depressa quem é o/a carinha da televisão...

    Deg deg


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